Em 2018, a ativista foi executada durante confronto ocorrido na brutal guerra civil que assola o país
Victória Gearini Publicado em 05/12/2020, às 08h04 - Atualizado em 06/12/2020, às 08h04
Poucos jovens que vivem no Ocidente assumem o risco de se juntar a um confronto armado, ainda mais na brutal guerra civil na Síria. No entanto, este não foi o caso da britânica Anna Campbell que deu a vida em prol de uma causa humanitária.
Anna cresceu em East Sussex, no sudeste da Inglaterra. A jovem estudou na Sheffield University, mas como o estudo não era sua vocação, abandonou a universidade para trabalhar como ferreira. Entretanto, a vida da jovem tomou outros rumos.
Ativista pelos direitos dos animais e proteção ambiental, Campbell surpreendeu amigos e família quando tomou a decisão de lutar na guerra da Síria, em 2017. Sem nenhuma ligação pessoal com os curdos, a jovem, que na época tinha 26 anos, deixou a Inglaterra para lutar em prol de uma região autônoma.
Comovida com a difícil situação da população síria, a jovem defendia a autonomia curda no norte da Síria. Conhecido como Rojava, este local não é reconhecido oficialmente pelo governo sírio — embora seja uma república autônoma, desde julho de 2012. Seus líderes defendem, ainda, uma política secular, democrática e igualitária entre os gêneros.
Ao descobrir este idealismo, a ativista se viu na obrigação de lutar pela causa, numa tentativa de impedir que este ideal fosse eliminado — algo que o governo da Turquia e da Síria tentam fazer há anos.
Em 2017, a jovem viajou para a Síria e recebeu treinamento militar, se juntando às Unidades de Proteção à Mulher — força militar feminina que luta ao lado das Unidades de Proteção Popular. Para se misturar durante o conflito, a jovem pintou o cabelo de preto e recebeu, ainda, um nome curdo.
Revolução feminina
Em um vídeo divulgado no Facebook, em 2018, Campbell disse que queria fazer parte de uma luta revolucionária, que incluísse a participação de mulheres.
“Eu queria participar da revolução das mulheres que está se construindo aqui e lutar, e me juntar também à luta armada contra as forças do fascismo e os inimigos da revolução. E agora estou muito feliz e orgulhoso de ir para Afrin para poder fazer isso”, disse a ativista no vídeo divulgado no Facebook.
Em entrevista ao The New York Times, em 2018, Ahed Elhendi, assessor do Conselho Democrático da Síria — grupo político que controla o nordeste da Síria — disse que a britânica sabia o risco que estava correndo, pois, na época, Afrin estava sendo bombardeada pelo exército turco.
“Achamos que ela poderia ser um grande trunfo para expressar nosso dilema, mas sua resposta sempre foi, ela veio em busca de resistência, para lutar”, disse Ahed Elhendi ao The New York Times.
Anna Campbell veio a falecer em março de 2018, durante o confronto. Na época, o pai da jovem, Dirk Campbell, disse ao The New York Times, que pediu para a filha não ir para a Síria, pois temia que algo de ruim pudesse acontecer.
“Em retrospecto, eu poderia ter apresentado o argumento de forma mais vigorosa, mas acho que ela teria se firmado ainda mais. Eu sabia que ela era durona, mas nunca a vi apontando uma arma”, concluiu Dirk Campbell ao The New York Times.
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