Jango era casado com a ex-primeira-dama, Maria Thereza, que testemunhou traições do marido do namoro à época pós-golpe de 1964
Vanessa Centamori Publicado em 21/06/2020, às 08h00
Muito antes das Reformas de Base, no dia 11 de dezembro de 1950, João Goulart, mais conhecido como Jango, recebeu a visita de uma bela moça, que foi criada em uma fazenda e morava ao lado dele, em São Borja, Rio Grande do Sul. A jovem o entregou uma carta, a pedido de um amigo em comum. Ao olhar a garota, foi amor à primeira vista.
Era a futura primeira-dama, Maria Thereza, a quem Jango chamava de "Teca". Em entrevista concedida à Aventuras na História, em 2010, ela se relembrou desse episódio memorável. Na ocasião, a dama só conhecia Goulart de vista. "Ele já era um político importante, uma personalidade. Minhas amigas comentavam, 'oh, como ele é lindo!' ", recordou Maria.
Ainda segundo a própria, os dois começaram a namorar em Porto Alegre, onde ela, que era 17 anos mais nova, estudava. Maria Thereza também dançou a valsa dos seus 15 anos com João Goulart. Até que, durante a primeira campanha do líder político à presidência, o casal se casou, em abril de 1955.
Filhos e acontecimentos políticos
No ano seguinte, Jango decolava em sua carreira política. Tornou-se vice-presidente durante o governo de Juscelino Kubitscheck. Além disso, por meio de uma ação constitucional, passou a ocupar a presidência do Senado, naquele 1956.
Nesse mesmo ano, ele teve também o seu primeiro filho com Maria Thereza, um menino chamado João Vicente, que mais tarde embarcou, assim como o pai, na vida pública, sendo deputado estadual do Rio Grande do Sul. O garoto teria uma irmã, Denise, que é um ano mais velha.
Um tempo depois, Jango foi reeleito vice-presidente, dessa vez durante o governo de Jânio Quadros. Após a renúncia de Jânio, em 7 de setembro de 1961, Goulart tomou posse. Na ocasião, uma emenda institucional que instaurou uma república parlamentarista tinha acabado de ser aprovada pelo Congresso.
A oposição, em especial de direita, se sentia ameaçada pelo discurso de Jango, que estaria ligado a ideais de esquerda. Em 6 de janeiro de 1963, ele conseguiu apoio da classe operária e do Congresso para aprovar um plebiscito e instituir o presidencialismo.
Vésperas do golpe
Com o fim do parlamentarismo, Goulart assumiu a chefia do Executivo num momento marcado pela crise da democracia. A oposição militar acusou Jango de comunista, em parte devido ao seu viés populista. Com isso, a paranoia e a perseguição aumentaram mais ainda quando ele realizou um comício na estação da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964.
Estava presente no comício a primeira-dama, Maria Thereza. Sobre a ocasião, ela descreveu o marido como um "mártir democrata", que preferiu cair a abandonar os seus princípios.
"Eu sabia que era um momento difícil, havia avisos de atentados. O médico dele tinha proibido aquele comício, Jango tinha problemas no coração. Os militares já haviam tentado negociar o fechamento do Congresso e a prisão de líderes sindicais e políticos em troca de se manter no poder", confidenciou a mulher, à AH.
Durante essa situação tensa, Jango assinou a reforma agrária, desapropriando terras em rodovias, ferrovias e em torno dos grandes açudes. Em resposta contrária à suposta "ameaça comunista", seis dias depois, aconteceu a emblemática Marcha da Família com Deus pela Liberdade, reunindo 300 mil pessoas.
João Goulart foi deposto pelo golpe militar de 1964, no dia 31 de março de 1964. Ele e a família foram exilados no Uruguai e depois na Argentina. A primeira-dama descreveu que o exílio foi uma verdadeira solidão para Jango, que teve seus bens confiscados por meses.
Ela, por outro lado, não teria sentido tanto esse peso, já que se concentrou em cuidar dos filhos. Mas também passou por grandes problemas, sendo presa várias vezes; certa vez, foi apreendida por três dias no Uruguai. Outro dia, segundo seu relato, foi parar em um posto da polícia devido às irregularidades envolvendo um frigorífico que Goulart tinha em Maldonado.
Amantes e ciúmes
Não foi nada fácil a relação de Jango com Maria Thereza. Várias questões extraconjugais são ilustradas em detalhes no livro de Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo, chamado Todas as mulheres dos presidentes: A história pouco conhecida das primeiras-damas do Brasil (2019).
Com mais exatidão, a obra conta que João Goulart traía Maria já quando os dois ainda namoravam. Certa vez, ele a levou para conhecer a boate Monte Carlo, no Rio de Janeiro, onde ela notou uma estranha intimidade do parceiro com as meninas do local. "Não houve uma vedete do Carlos Machado [dono da boate] que ele não tivesse comido", revelou a primeira-dama.
As traições, como eram de praxe, continuaram no exílio. Quando o casal estava no Uruguai, na década de 1970, a esposa ficou indignada ao flagar Jango em um restaurante com uma modelo loira e famosa. Na época, ela pensava em dar mais um filho ao marido, que estava triste com o desterro. Mas, aquilo foi demais.
Maria Thereza não pediu separação, porém solicitou que familiares a buscassem em Montevidéu e passou um tempo com a família em Porto Alegre. Só que, no Brasil, foi tudo bem pior. Presa por ser esposa de Jango, Maria passou por interrogatórios humilhantes, nos quais teve que ficar nua.
A mulher finalmente conseguiu voltar a Montevidéu, onde, em 1972, voltou a ver o marido com a loira misteriosa. Até hoje não se sabe se era Eva de León Giménez, amante confirmada de João Goulart. Porém, fato é que Jango e Eva se relacionaram naquele exato espaço de tempo, até o fim da vida do ex-presidente.
A última amante
Quando conheceu Goulart em seu exílio, Eva de León Giménez tinha 17 anos de idade e ele já tinha mais de 50 anos. Um mês antes da morte de Jango, ela viajou com ele para a Europa. A versão oficial do óbito diz que o gaúcho morreu de ataque cardíaco, em Mercedes, Argentina, em 1976.
No entanto, a causa da morte é muito controversa, gerando uma série de teorias. Em entrevista ao portal Terra, Eva contou que não acredita na hipótese de assassinato. "Eu sei que os militares foram terríveis, tanto no meu país como na Argentina e no Brasil, mas daí a dizer que Jango foi assassinado... Se foi assassinado, os cúmplices foram gente que estava com ele o tempo todo, e só eu estava com ele o tempo todo”, disse.
Segundo a mulher, logo antes de morrer, o presidente tinha muita curiosidade sobre o futuro. O gaúcho queria voltar para o Brasil e retomar a vida política, assim que a ditadura terminasse. Na companhia da amante uruguaia, chegou até a consultar uma cartomante.
"Essa mulher disse que o via de volta ao seu país, sendo ovacionado por milhares de pessoas. Só não disse se ele estaria vivo ou morto”, relatou Eva. Tamanha a ironia da vida, o enterro de João Goulart, em São Borja, teve a presença de 30 mil pessoas, saudando sua história.
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