Fotografia dos anos 90 de Glauco Villas Boas - Divulgação
Personagem

A tragédia que abalou o país: A morte de Glauco Villa Boas

O famoso cartunista foi assassinado em seu sítio, por um jovem que acreditava ser Jesus Cristo

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 01/02/2021, às 13h19

Glauco Villas Boas foi um cartunista paranaense que ficou conhecido pelas suas tirinhas satíricas e irreverentes, muitas delas publicadas na Folha de São Paulo. Em 2010, todavia, quando o artista vivia uma grande fase em sua carreira, teve o destino interrompido de maneira precoce por um crime que chocou o Brasil. 

Um jovem frequentador da Igreja fundada pelo desenhista invadiu seu sítio no meio da noite, trazendo uma pistola consigo. Conforme documentado pelo Blog do Acervo, do O Globo, em meio a um surto, Carlos Eduardo Sundfeld Nunes acreditava ser Jesus Cristo. Ele, assim como sua mãe, sofria de esquizofrenia, contudo, ainda não tivera oportunidade de obter o tratamento adequado.

Foi em meio à confusão que acabou disparando os oito tiros que atingiram Glauco, aos 53 anos de idade, e seu filho Raoni, de 25. O serviço de emergência foi chamado, entretanto, nenhum dos dois conseguiu resistir até o caminho do hospital. 

Assassinato 

Fotografia de Carlos Eduardo Nunes / Crédito: Divulgação 

 

Na noite em que Glauco Villas Boas foi morto, Nunes invadiu sua casa com um objetivo confuso, fruto de seu estado mental desorientado: ele queria levar o cartunista consigo para ver a mãe, e fazê-lo confirmar para ela que o rapaz era Jesus Cristo

Chegou não só com uma pistola, mas também com uma faca. Segundo a reportagem do Globo do dia seguinte ao episódio, seu comportamento era “exaltado”, e ele “aparentava estar drogado”. 

A situação era tensa. Villas Boas, sua esposa, o filho e a enteada estavam presentes, e, infelizmente, logo começou uma discussão. Carlos queria levar o cartunista e seu filho com ele, porém Glauco tentou argumentar que era melhor se só ele fosse. Enquanto tentava convencer o jovem armado, todavia, tudo saiu do controle. A pistola foi disparada oito vezes. As feridas foram graves demais. 

Nunes fugiu após cometer o crime, ficou foragido por mais 48 horas e só depois foi localizado pela polícia com um veículo roubado.

A Igreja 

A notícia do assassinato do cartunista publicada pelos jornais em 13 de março de 2010 era estranha de diversas formas. O crime era súbito, o assassino achava que era Jesus Cristo, e conhecia o artista por conta de encontros religiosos na igreja que Glauco havia fundado - nenhum desses elementos parecia fazer muito sentido.  

O Blog relata que Villas Boas criara a igreja Céu de Maria, onde as cerimônias religiosas - que eram realizadas no seu sítio mesmo, durante os fins de semana - contavam com o uso do chá de Santo Daime. A bebida é feita da mistura de diversas plantas, incluindo um cipó amazônico, e possui propriedades alucinógenas. 

Fotografia do Santo Daime sendo feito / Crédito: Divulgação/ Umbanda NUSS 

 

Depois da morte trágica do cartunista, os encontros passaram a ser administrados por Beatriz Galvão, sua esposa, então viúva. 

A reportagem explica que a família de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes contou para os policiais envolvidos na investigação do crime que o jovem de 24 anos costumava voltar dos cultos religiosos da Céu de Maria em um estado de agitação incomum. 

Uma reportagem do G1, publicada após a morte do cartunista, discute o uso da bebida nesses casos. Na época, o professor Dartiu Xavier da Silveira relatou que o chá não causaria reação agressiva em que faz o uso, entretanto, pode resultar em reações distintas em pessoas que sofrem com distúrbios psicológicos, usando o caso de Nunes como exemplo. 

“O chá não cria violência. Em casos de psicose, pode potencializar o efeito. Por isso, não é aconselhado a quem sofre (de transtornos psiquiátricos)”, disse Dartiu na época. 

A mãe de Carlos, contudo, sofria do transtorno, o que significava que o garoto tinha uma tendência a desenvolvê-lo também. Nessa situação, as alucinações provocadas pela bebida poderiam ter contribuído para esse processo. 

“No meio do ano passado, ele disse que recebeu uma mensagem de Jesus, de que ele próprio era Jesus. Eu disse 'Eduardo, eu vou ter que te internar'. Ele ajoelhou, abraçou a minha perna e disse 'não quero ficar como minha mãe”, relatou o pai do jovem para o Jornal Nacional na época do crime. 

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