Confira as diferenças entre as celebrações nesse período litúrgico que antecede a Páscoa cristã, que se inicia nesta quarta-feira
Redação Publicado em 02/03/2022, às 00h00 - Atualizado em 14/02/2024, às 10h48
No Brasil, um país onde a maioria da população se considera cristã, 87% no total, de acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE, o período que se inicia agora é considerado importante para algumas religiões.
Trata-se da Quaresma, os 40 dias que antecedem a Páscoa para celebrar a ressureição de Jesus. Neste ano, a contagem se inicia nesta quarta-feira, 14, e termina na quinta-feira da semana santa.
Em entrevista exclusiva ao Aventuras na História, a doutora em Antropologia Social, Docente no Mestrado em Ciência das Religiões da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Portugal, Lidice Meyer, explicou mais sobre o assunto, que pode gerar dúvidas e curiosidades.
A professora explica que a Quaresma abrange uma celebração cristã, realizada apenas nas tradições Católicas Romana e Ortodoxa, Anglicana e Luterana. No entanto, algumas tradições Metodistas e Presbiterianas também podem incluir certos 'rituais' nesse período.
Para o cristianismo a Quaresma é um período de penitência para através da abstinência de certos alimentos para dispor-se a buscar mais a Deus. O sentido mais importante deste tempo penitencial é o da busca pela proximidade a Deus”, afirma.
A especialista explica que apesar de não ser propriamente citada na Bíblia, a tradição possui um embasamento nas escrituras.
A relação estabelecida é entre os 40 dias de Moisés no monte Sinai, de Elias no monte Horeb e de Jesus no deserto. O texto de Deuteronômio cita que o período no Sinai foi um tempo de intercessão de Moisés pelo povo após o que recebeu os mandamentos. Tanto Elias como Jesus são alimentados milagrosamente após o jejum. Nas histórias estão presentes os três elementos básicos da Quaresma: oração, Palavra de Deus e jejum”.
Em um país de maioria cristã, surgem dúvidas se o período da Quaresma impacta outras religiões, como a religião evangélica que corresponde a 31% no Brasil, segundo pesquisa do Datafolha realizada em 2020.
Segundo Meyer, existem algumas vertentes da religião que seguem a tradição, no entanto, em solo brasileiro isso não é muito comum.
A Quaresma é uma celebração de origem Católica. Apenas os primeiros ramos do protestantismo (Luteranos e Anglicanos) seguem esta tradição com as cores litúrgicas e alguns rituais (cinzas e estímulo a oração, leitura bíblica e abstinência de alimentos). Algumas igrejas presbiterianas e metodistas também seguem estes poucos rituais, mas sobretudo nos EUA. No Brasil são raras as igrejas destas denominações que fazem referência à Quaresma”, explica.
Segundo a professora, no Brasil, o evangélico — que em sua maioria é pentecostal e neopentecostal — não guarda a Quaresma. A especialista explica que para essa religião os rituais não têm significado.
De acordo com Lidice, para eles, a festa principal é mesmo a Páscoa. Mas, para se prepararem para essa celebração, os evangélicos podem fazer alguns eventos especiais.
No período que antecede à Pascoa, há vários preparativos como ensaios de peças teatrais, apresentações musicais e estudos especiais. Em muitas igrejas celebra-se a Sexta-Feira Santa com o chamado 'Sermão das Sete Palavras da Cruz' onde o pastor ou sete convidados dirigem aos fiéis rápidas reflexões sobre cada uma das sete frases ditas por Jesus na cruz”, explica.
Em relação às tradições seguidas nesse período pelas outras religiões que celebram a Quaresma — como o jejum — a professora pontua as diferenças.
Na visão do mundo evangélico, o jejum só tem significado quando acompanhado de oração e contrição. Como acreditam que os católicos apenas praticam a abstinência de carne vermelha por tradição, sem envolvimento espiritual, creem que não há nenhum ganho em bênçãos ou espiritualidade na prática do jejum quaresmal”.
Em entrevista ao site Aventuras na História, o pastor Leonardo Felix nos explica que algumas declarações da fé católica divergem com a crença protestante.
Segundo ele, por esse motivo participar da Quaresma se tornaria inviável para os evangélicos. No entanto pontua que “nada impede um cristão protestante neste mesmo período realizar jejuns e renúncias em busca a Deus”.
Questionado sobre as tradições seguidas pela religião católica nesse período, o pastor afirma que “atos de fé são extremamente respeitados”. No entanto, pontua que do ponto de vista de sua religião, o cristão não tem entendimento de avaliar os resultados desses atos.
Somente Deus para saber a intenção individual do coração de cada pessoa que jejua”, afirma Leonardo.
O pastor pontua que para os evangélicos, a mensagem da Quaresma é sem dúvidas “muito significativa”, já que “relembrar a trajetória de Cristo no deserto e fazer uma associação aos mesmos desafios na vida cristã cotidiana é um exercício muito importante”.
No entanto, explica que na visão evangélica, “isto deve ser feito durante toda a caminhada cristã, não necessariamente em apenas um período”.
Por esses motivos citados acima, em sua maioria, os evangélicos usam esse período somente para se dedicarem as celebrações referentes à Páscoa, como finaliza a explicação da professora Lidice.
Para os evangélicos é apenas a época que antecede a Páscoa e por isso deve ser utilizada para o preparo das atividades referentes á celebração pascal”.
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