Com um legado controverso, Guevara viveu encurralado até cair em desgraça na Bolívia
Ingredi Brunato Publicado em 09/10/2020, às 00h00
Nesse dia, em 1967, foi dado o tiro que matou o argentino Ernesto ‘Che’ Guevara, líder revolucionário marxista que defendeu a estratégia de guerrilha como forma de instalar a revolução socialista.
O líder de esquerda viveu e morreu lutando pelo que acreditava, sendo capturado em meio a uma guerrilha boliviana, por um conjunto de esforços que envolveram o exército boliviano e a CIA.
Seu legado é controverso, com alguns vendo Che como símbolo da possibilidade de um mundo melhor, e outros encarando o guerrilheiro de maneira contrária, como uma figura maléfica que trabalhou para o lado errado da História.
O ex-agente cubano da CIA, Félix Rodriguéz, que deu a ordem para matar o marxista argentino, é da segunda opinião. Quando entrevistado pela redação do El País em 2017, ele disse: “O que posso dizer é que o homem era dedicado aos seus ideais, que obviamente estavam errados e foram um desastre total. E que nos próprios treinamentos, me disse gente que treinou com ele, era muito persistente. Estava cansado, morto e tentava continuar”.
A saga do guerrilheiro
Che Guevara foi muito ativo durante seus 39 anos de vida. Um de seus feitos mais relevantes foi seu envolvimento no desenvolvimento da Revolução Cubana, que instalou o socialismo no país.
No entanto, mesmo depois da tomada bem-sucedida do poder na ilha, o argentino não estava pronto para sossegar, e decidiu levar os seus ideais para outros pontos do mundo. Ele visitou um grande número de países, fazendo discursos que instigavam mudanças sociais.
Em dois países específicos, Che apresentou sua resistência ao sistema capitalista. Infelizmente para o revolucionário, tanto suas tentativas de revolução no Congo quanto na Bolívia não tiveram o mesmo êxito que a experiência na ilha caribenha.
Esse fracasso teria acontecido pela falta de apoio à guerrilha nesses lugares, ou, como colocou ele: "não podemos libertar por nós mesmos um país que não quer lutar". Inclusive, na Bolívia, a localização do líder foi informada pelos próprios camponeses.
Che Guevara passou muitos de seus anos vivendo de forma clandestina e embaixo de disfarces, inclusive não conseguindo participar da vida dos próprios filhos, fadado a apenas vê-los em locais públicos, porém sem poder se aproximar ou revelar sua identidade.
Era o sacrifício necessário para o estilo de vida que o revolucionário tinha escolhido, que fazia com que fosse constantemente procurado por autoridades que o procuravam.
O último suspiro
Na Bolívia, o grupo liderado por Che foi parte assassinado e parte capturado pelos oficiais bolivianos contrários à revolução. Durante um tiroteio que seguiu à tensão instalada, quatro homens do argentino foram mortos, dez escaparam e ele mesmo foi atingido. O líder foi levado para uma escola localizada no vilarejo, onde foi interrogado. Seu destino já estava selado: seria executado.
No último dia de Che Guevara, ele posou para uma fotografia, abraçou um cubano e mandou uma mensagem para a esposa, uma série de ações que sem contexto pareceriam mundanas.
Porém, o contexto era esse: Félix Rodriguéz, que deu a ordem para matar Guevara, quis primeiro tirar uma foto com o famoso prisioneiro. Depois disso, quando soube que estava para morrer, o revolucionário quis dar um último recado para a esposa, dizendo para ela “se casar de novo e ser feliz”. Então, apertou a mão e abraçou o homem que pensou ser o responsável por tirar sua vida.
Quem veio para dar o tiro, todavia, foi o sargento Mario Terán. O oficial tinha pedido para fazer as honras porque queria vingar três colegas seus, que tinham morrido em confronto com a guerrilha liderada por Che.
O sargento chegou dizendo “Che, venho falar com você”, mas o revolucionário não se deixou enganar, respondendo: “Não seja filha da p*ta, eu sei que você veio me matar. Mas quero que saiba que vai matar um homem.”
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