Conheça a cidade construída por Henry Ford no final da década de 1920, hoje abandonada
Giovanna Gomes, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 06/01/2021, às 16h14 - Atualizado em 30/12/2021, às 18h00
A Ford Motors Company, fundada por Henry Ford apresentou ao mundo um novo método de produção de automóveis.
Neste sistema, os funcionários permaneciam em filas, realizando a mesma tarefa repetidamente, sendo cada um especializado na produção de uma parte do veículo.
A indústria automobilística de Ford necessitava de vários materiais para a produção, entre eles, a borracha. Contudo, as seringueiras de onde era extraído o látex se encontravam no território asiático e estavam sob monopólio inglês.
Assim, Ford pensou que seria uma boa alternativa buscar a matéria prima em território brasileiro. No entanto, seus investimentos resultaram em um verdadeiro desastre.
Naquela época, o governo do Pará concedia terras gratuitamente a quem quisesse plantar seringueiras. Assim, sabendo do interesse de Henry Ford em investir na região amazônica, o cafeicultor Jorge Dumont Villares obteve do governo áreas em sete pontos diferentes. No entanto, quando os funcionários da companhia chegaram ao Brasil, Villares mostrou apenas sua propriedade privada.
Dessa forma, Ford comprou 1 milhão de hectares do cafeicultor por 125 mil dólares, sendo que poderia tê-las conseguido gratuitamente. Além disso, o terreno era impróprio para o cultivo de seringueiras.
A floresta começou a ser derrubada no ano de 1928 para a construção das casas e para a plantação das seringueiras. Dois navios, Lake Ormoc e Lake Farge, foram encarregados de trazer dos EUA madeira, telhas e mudas, além de outros materiais necessários para a construção da vila. Uma das embarcações serviu temporariamente de hospital, além de fornecer energia elétrica para a região.
Terminada a construção, a cidade era um verdadeiro povoado americano dentro da Amazônia. Nela, estavam as casas dos administradores, que contavam com piscina, gramados para golfe, cinema, entre outras comodidades.
Enquanto os administradores americanos viviam luxuosamente, os funcionários brasileiros habitavam vilas modestas. Porém o salário era muito maior do que em outras localidades, o que fez com que muita gente buscasse emprego em Fordlândia, sendo especializada ou não. Mas, por mais que houvesse um enorme número de candidatos, grande parte não era admitida devido a problemas de saúde.
Contudo, ainda que o salário não fosse baixo, havia uma grande diferença de costumes entre brasileiros e estadunidenses. Os caboclos estavam acostumados a seguir o ciclo do sol, mas os americanos utilizavam relógios de ponto e uma sirene que marcava turnos e horários de descanso.
Além disso, era proibido o consumo de bebida alcoólica na Fordlândia, o que não era de fato um problema, já que os funcionários davam um jeito de contrabandear álcool dentro de melancias, que entravam no local pelo rio.
Logo no início, a plantação de seringueiras foi atacada por um fungo chamado mal-das-folhas, que matava as árvores ou pelo menos reduzia a produção do látex, o que representou um grande prejuízo para Ford.
Outro obstáculo era que o ritmo da plantação também era muito baixo. Se no ano de 1929, havia um total de 400 hectares ocupados por seringueiras, em 1931, esse número subiu para somente 900, sendo que o plano inicial era de 200 mil hectares.
Apenas no ano de 1932, a empresa contratou um especialista chamado James R. Weir para tratar das plantações. Ele sugeriu que a Fordlândia fosse transferida para a cidade de Belterra, que seria mais propícia ao cultivo. Assim, teve início a construção de um novo povoado. Porém a produção ainda permaneceu baixa.
O surgimento da borracha sintética, que passou a ser largamente produzida após a Segunda Guerra Mundial representou uma diminuição do interesse pelo látex. Outra razão era que a forma de produção das fábricas passou por mudanças. A terceirização fez com que os produtos não precisassem ser realizados totalmente num mesmo local.
Assim, com um prejuízo de 9 milhões de dólares na época, no ano de 1945, Henry Ford, decidiu vender as terras na Amazônia para o governo brasileiro pelo preço de 250 mil dólares. Desde então, o local se encontra totalmente abandonado.
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