O conflito entre persas e gregos resultaram maior zebra da história das guerras
Redação Publicado em 23/10/2017, às 16h36 - Atualizado em 01/03/2022, às 08h00
O dia amanheceu desafiando o bom senso. Após meio século de supremacia inquestionável, o Império Persa, o maior que o mundo já vira até então, estava sendo atacado. Corria, então, o ano de 497 a.C. A ameaça vinha dos jônios, colonos de origem grega que viviam espalhados ao longo do litoral da Ásia Menor, atual Turquia, região dominada pelos persas desde 545 a.C.
Ousando desafiar os dominadores, os rebeldes tinham atacado e incendiado a cidade persa de Sárdis. O rei Dario I ficou furioso com a ousadia. O que mais o enraiveceu, no entanto, foi o detalhe que despertara a súbita valentia dos vassalos: eles tinham contado com ajuda externa.
Duas cidades da Grécia continental, do outro lado do mar Egeu, tinham enviado uma esquadra cheia de soldados para lutar ao lado dos revoltosos. Uma dessas cidades chamava-se Erétria; a outra, na época ainda pouco conhecida, era Atenas. Dario nunca tinha ouvido falar dos tais atenienses. Fervendo de indignação, apanhou um arco, disparou uma flecha para o céu e suplicou à divindade suprema que lhe concedesse a vingança contra seus novos inimigos.
A cena protagonizada pelo rei da Pérsia, descrita pelo maior historiador da Grécia antiga, Heródoto, representa um dos momentos cruciais daquele tempo: o início do conflito entre persas e gregos. De um lado estava a grande potência imperialista da época; do outro, um emaranhado de cidades-estados politicamente divididas mas unidas por uma cultura comum.
Florescendo nas margens do Mediterrâneo, as cidades gregas criaram uma próspera rede de comércio que se estendia da costa da Espanha até os portos do mar Negro – e seu poder econômico crescia sem parar. Já o Império Persa, surgido durante o século 6 a.C., ocupava um território gigante que ia da península Balcânica até o atual Afeganistão.
Seu Exército, reunindo uma multidão de etnias e idiomas, era considerado imbatível. O conflito entre esses dois mundos rivais tornou-se inevitável. Após derrotar os rebeldes jônios na batalha de Lade, em 494 a.C., Dario I voltou os olhos para a Grécia e resolveu eliminar a concorrência.
A primeira esquadra persa enviada para a Grécia foi vítima do azar. Os navios naufragaram no meio do caminho, abatidos pelo mau tempo. Em 490 a.C., no entanto, cerca de 20 mil soldados do rei Dario desembarcaram no território inimigo, liderados pelos generais Dátis e Artafernes. Sua missão era destruir Atenas e Erétria – e subjugar todos os gregos.
O conflito que se seguiu passou à história como um dos mais dramáticos da Antiguidade – e mudou para sempre os rumos do mundo. Depois de arrasar Erétria e escravizar seus habitantes, os persas partiram para seu alvo principal, Atenas.
Dátis e Artafernes posicionaram as tropas na planície de Maratona, a apenas 42 quilômetros da cidade. Enquanto isso, os atenienses preparavam a resistência, contando com a prometida ajuda da cidade-estado de Esparta – cujas tropas não chegariam a tempo para a batalha. Na véspera do embate, os líderes de Atenas pensaram em recuar. Mas havia um homem decidido a lutar até o fim: Milcíades, um dos dez comandantes do Exército local.
Para ele não existia saída: ou os persas eram enfrentados, ou a história de Atenas estaria acabada. Mesmo com a perspectiva de fracasso total, Milcíades imaginou que uma vitória, por mais improvável que pudesse parecer, poderia elevar sua cidade natal ao posto de mais poderosa da Grécia. Com tais argumentos, o guerreiro grego convenceu seus conterrâneos a partir para o ataque.
O confronto aconteceu no dia 12 de setembro de 490 a.C. Lideradas por Milcíades, as tropas da Grécia, que contavam com cerca de 10 mil soldados de infantaria, lançaram-se através da planície de Maratona. “Na opinião dos persas, os atenienses estavam loucos. Apesar de serem tão poucos, avançavam em marcha acelerada, sem dispor de cavalaria nem arqueiros”, escreveu Heródoto.
Os gregos, no entanto, tinham seus segredos: falanges bem treinadas e protegidas por armaduras de bronze, muito mais eficazes do que os escudos de vime e túnicas acolchoadas dos persas. O combate começou – e Davi acabou derrubando Golias.
O Exército da Pérsia foi destroçado e os soldados remanescentes recuaram em pânico para o litoral. Muitos acabaram mortos na fuga ou se afogaram ao tentar nadar de volta para os navios.
O fracasso não pôs fim à rivalidade entre gregos e persas. Muito pelo contrário. Cerca de nove anos depois da primeira investida, o novo soberano da Pérsia, Xerxes, filho de Dario, decidiu lavar a honra do império. Reuniu 200 mil soldados de várias etnias: persas, medos, indianos, bactrianos, egípcios, etíopes e até mesmo mercenários gregos, além de uma grande frota de barcos de guerra.
À frente dessa força monumental, Xerxes cruzou o Helesponto, estreito que divide a Europa da Ásia, hoje conhecido como estreito de Dardanelos. Dessa vez, a maior parte das cidades gregas uniu-se para enfrentar o invasor. Em Atenas, a resistência foi conduzida por Temístocles, um político astuto e visionário, considerado por alguns como o homem mais brilhante de sua geração.
Suspeitando que o embate final contra os persas se daria no mar, ele convenceu os atenienses a usar as riquezas de suas minas de prata para construir uma frota de 200 navios. O futuro provou que Temístocles estava certo.
A primeira grande batalha entre o Exército grego e as forças de Xerxes se deu no desfiladeiro das Termópilas (“portões quentes”, em grego; o nome se refere às fontes de água termal da região). Espremido entre a montanha e o mar, o local era uma das únicas entradas para o coração da Grécia.
O trecho mais estreito só permitia a passagem de duas carroças. Ali o rei de Esparta, Leônidas, lutou desesperadamente para conter o avanço persa. Com apenas 7 mil homens, enfrentou os 200 mil soldados inimigos. O espartano resistiu por dois dias e só foi vencido por causa de uma traição. No terceiro dia de luta, um morador das redondezas, em troca de favores de Xerxes, contou aos persas sobre a trilha da Amôpaia, um caminho que terminava exatamente atrás da muralha que protegia os gregos.
A tal trilha era o ponto fraco da estratégia de Leônidas. Ao saber da traição, o rei espartano decidiu resistir, junto com os 300 homens de sua guarda pessoal. Assim ele daria tempo para que o restante de seu pequeno exército se retirasse em segurança. Na batalha final, dois irmãos de Xerxes morreram. Leônidas também não resistiu.
Enquanto a luta seguia nas Termópilas, os atenienses se refugiaram na ilha-santuário de Salamina. Quando o déspota da Pérsia finalmente chegou a Atenas, a cidade estava deserta. Após incendiar a Acrópole e saquear os templos, ele enviou sua armada, de mais ou menos 500 navios, para caçar os fugitivos.
No mar, a esquadra grega fingiu que estava batendo em retirada. Como o local era estreito, funcionou como uma armadilha feita sob medida pela natureza. Sem espaço para manobrar, os pesados navios de Xerxes amontoaram-se uns contra os outros. As trirremes gregas avançavam em fileiras bem organizadas e partiam o casco das embarcações rivais com aríetes de bronze. Mais uma vez, vitória grega.
Xerxes voltou para casa amargando a derrota. O restante de suas tropas terrestres acabou desbaratado um ano mais tarde pelo general espartano Pausânias. Depois dessa última batalha, os gregos estavam finalmente salvos – e os persas nunca mais voltariam a invadir a Europa. O triunfo, como Milcíades tinha previsto, transformou Atenas na cidade-estado mais poderosa e influente da Grécia.
Se os persas tivessem vencido, a história da civilização ocidental poderia ter seguido rumos bem diferentes. A democracia grega, cujos ideais influenciaram as revoluções republicanas da Idade Contemporânea, teria sido destruída antes mesmo de atingir o pleno desenvolvimento. As obras dos filósofos Aristóteles e Platão, essenciais para a história do pensamento, talvez nem tivessem sido escritas.
A luta dos gregos pela liberdade foi imortalizada no teatro de Ésquilo (525 a C- 456 a.C.), um dos maiores dramaturgos atenienses, que combateu na batalha de Maratona e compôs várias tragédias famosas, como a Oréstia e Os Persas. As guerras persas também compuseram o tema central na grande obra de Heródoto, que mais tarde ganharia o apelido de “Pai da História”.
No entanto, as cidades gregas, que haviam se unido para lutar contra o inimigo estrangeiro, não conseguiram resolver suas rivalidades internas, transformando a Grécia novamente em palco de batalhas.
Por volta de 431 a.C., uma luta que duraria 25 anos entre Atenas e Esparta pôs um ponto final na curta fase de ouro que a Grécia viveu, mergulhando o país num sangrento estado de anarquia – que só chegaria ao fim com a conquista macedônica.
Coube a Filipe II, pai de Alexandre, o Grande, transformar a Grécia em um estado unificado. Daí para frente, Alexandre protagonizaria a história, formando um império maior do que os romanos viriam a ocupar.
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