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Bruxas brasileiras

Bruxas: Veja histórias e lendas em torno de figuras brasileiras

Com histórias reais ou inventadas, mulheres entraram para o imaginário popular como bruxas terríveis

Paulo Rezzutti Publicado em 31/10/2023, às 11h56

Através de uma rápida busca na internet, você vai encontrar inúmeras histórias de Bruxas no Brasil, a maioria, inventadas. Sempre desconfie quando o final da história afirmar que a bruxa terminou morta pela inquisição numa fogueira, no Brasil.

Na realidade, o Brasil respondia ao tribunal do Santo Ofício em Portugal, que enviava os chamados visitadores do Santo Ofício para o Brasil. Daqui, os casos mais graves eram enviados para Portugal, onde algumas das acusadas eram sentenciadas a prisões ou ao degredo.

Ainda existiram os casos das que foram mortas nos chamados Autos da Fé, ou seja, quando os acusados eram levados à fogueira, mas em Portugal. Muitas vezes, mulheres portuguesas, acusadas de bruxaria, em Portugal, eram enviadas em degredo para o Brasil.

De acordo com diversos folcloristas, a imagem da bruxa brasileira deriva da bruxa ibérica. Ela é quase sempre velha, apresenta rugas, verrugas, suja e maltrapilha. Com um saco às costas, vive sozinha, em lugares soturnos e sempre tem algum animal, como cachorros, gatos, morcegos, corujas, entre outros.

Nem todas eram cruéis ou feias, mesmo assim, entraram para o imaginário popular como bruxas terríveis, e é sobre elas e suas histórias, reais ou inventadas, que este texto trata.

Na tradição do folclore brasileiro, ser bruxa é algo que nasce com a pessoa. Uma pessoa não se tornava uma bruxa só por vontade própria. Uma das diversas histórias envolve a questão do nascimento.

Por exemplo, quando uma família tem sete meninas uma depois da outra, sem nenhum menino no meio, a sétima filha é uma bruxa. No entanto, tem um jeito de evitar essa tragédia e tirar a bruxaria dela. A bebê precisa ser batizada pela irmã mais velha e ser chamada de Maria ou Benta. Outra possibilidade, dependendo da região do Brasil, é receber um nome de menino.

Imagem meramente ilustrativa /Crédito: Pixabay

 

O 'mal de sete dias'

Vocês já ouviram falar no “mal de sete dias”? É quando um recém-nascido morre subitamente sem nenhuma explicação. Hoje em dia, a ciência explica isso como Morte Súbita do Recém-Nascido. Antigamente, no entanto, acreditava-se que a culpada pela morte do bebê seria uma bruxa.

Segundo as lendas, essa sétima filha, quando completava sete anos, se transformaria numa borboleta que, para continuar viva, precisaria sugar não o néctar das flores, mas sim sangue, de um recém-nascido. A jovem entraria pela fechadura ou janela da casa e sugaria o sangue do bebê pelo seu umbigo. O cenário seria diferente caso a parteira fosse das boas. Ela deixaria embaixo do berço da criança uma tesoura de prata aberta, o que teria o poder de afastar a bruxa.

Mas é só quando começa a ficar velha que a sétima filha vira uma bruxa. Esse seria o caso da Bruxa Nicácia, do Piauí. Dizem que no sertão do Piauí, às margens do rio Corrente, vivia uma bruxa chamada Nicácia. Ela morava fora do povoado, numa curva do rio, e amedrontava as pessoas.

A saga de Nicácia

Como vivia sozinha e ninguém se dirigia até sua casa, Nicácia desbravou todos os monstros do rio com um feitiço e passava o dia conversando com as criaturas. Também contava com uma companheira, uma coruja gigantesca, que tinha um rosto humano. Quando piava, a coruja emitia um som tão horrível, que até gelava o sangue das pessoas. O animal ficava empoleirado no alto da casa enquanto a bruxa realizava poções e feitiços.

Ocasionalmente, a bruxa Nicácia desaparecia durante dias. As pessoas não notavam a fumaça saindo da sua chaminé e o pio assustador da coruja surgia de dentro da mata. Muitos acreditavam que, nesses dias, a bruxa visitava o diabo. Quando voltava, uma trilha de fumaça escura subia da cabana desenhando figuras monstruosas no céu.

Um dos motivos para os moradores terem medo de Nicácia é que toda vez que encontrava alguém e trocava algumas palavras, ela fazia previsões horríveis, que sempre aconteciam. Uma das previsões contava que um dia o rio Corrente subiria a ponto de inundar tudo. Assim, destruiria casas, afogaria as pessoas e mudaria o contorno da região. As pessoas ficaram apavoradas e começaram a rezar para que Deus as protegesse e a profecia não se concretizasse.

A profecia

Muito tempo passou, até que, um dia, começaram a se juntar nuvens pretas. Com uma tempestade forte, os moradores tiveram certeza de que, naquele dia, a profecia da bruxa Nicácia poderia se realizar. Durante toda a noite, a chuva atacou as casas, os raios cruzaram os céus, os trovões faziam a terra tremer, e o vento foi tão forte que derrubou árvores e arrastou telhados.

As pessoas ficaram encolhidas, rezando, acreditando que aquele era o último dia na Terra. Mas, quando amanheceu, a tempestade começou a se despedir. O céu se abriu, os passarinhos voltaram a cantar, e todo mundo saiu pela vila alagada para avaliar os estragos, mal acreditando na sorte de todos estarem vivos e suas casas ao menos parcialmente inteiras.

A profecia não se cumpriu, tudo ainda estava no mesmo lugar, exceto uma coisa: a curva do rio onde Nicácia morava foi arrasada pelas águas e tudo sumiu: o casebre, a coruja e a própria bruxa.

Dizem que Nicácia foi transformada num monstro horrível, coberto de cabelos compridos e com grandes garras, que até hoje aparece para assustar as pessoas que estão na beira do rio.

Veja mais histórias de bruxas brasileiras no vídeo abaixo!

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