Quadro de Kandinsky, que foi de mulher morta por nazistas, é leiloado

Wassily Kandinsky foi um pintor russo que mudou o mundo da arte para sempre, sendo um dos pioneiros da arte abstrata, ou seja, que não representa objetos visíveis na nossa realidade concreta. Em 1910, ele pintou um quadro chamado "Murnau mit Kirche II", um retrato da cidade alemã de Murnau e da torre de sua igreja. Mas a história da pintura não termina aqui.

O quadro pertenceu a uma mulher judia nascida na Alemanha chamada Johanna Margarete, e viveu por um bom tempo pendurado em sua sala de jantar. A obra, que mede cerca de 1 metro por 1 metro, enfeitava a casa da mulher e de seu marido, Siegbert Stern. Eles haviam fundado uma empresa têxtil de sucesso, e faziam parte da elite cultural de Berlim.

Segundo a Folha de S. Paulo, o casal conviveu com o físico Albert Einstein e os escritores Franz Kafka e Thomas Mann. O marido morreu de causas naturais em 1935, mas Margarete ainda viveu quase uma década de perseguição aos judeus na Alemanha. Ela foi assassinada no campo de concentração de Auschwitz em 1944, mesmo ano em que Wassily Kandinsky faleceu. Com a morte de Margarete, a pintura se perdeu.

Recuperando a pintura

Como muitas obras de arte em posse de famílias judias da época, o quadro "Murnau mit Kirche II" se perdeu da família e foi parar, em 1951, em um museu em Eindhoven, cidade da Holanda. A pintura só foi devolvida aos herdeiros de Margarete e Stern em 2022.

A família concordou com o leilão e vai dividir os lucros do quadro, que foi vendido na quarta-feira, 01, pela casa de leilões Sotheby's por 45 milhões de dólares, algo próximo de 233 milhões de reais na cotação desta quinta-feira, 02.

A restituição desta pintura que tanto significou para os nossos bisavós tem um enorme significado para nós, porque é um reconhecimento e fecha parcialmente uma ferida que ficou aberta ao longo de gerações", disseram os herdeiros em comunicado.

Junto do quadro de Kandinsky foi vendida a obra "Dança na Praia" (1906), do pintor impressionista Edvard Munch, que também foi escondida de nazistas, habitando um celeiro na Noruega até ser redescoberta.