Mussolini e Hitler anos antes da operação - Wikimedia Commons
Segunda Guerra

Acordo de tiranos: há 77 anos, Hitler resgatava Mussolini na Operação Eich

Conheça os bastidores de uma das ações mais arriscadas da Segunda Guerra

Tiago Cordeiro Publicado em 12/09/2020, às 00h00

Era o começo da tarde de um domingo, 12 de setembro de 1943, e Benito Mussolini jogava paciência em um quarto do segundo andar do hotel Campo Imperatore, na região de Gran Sasso, a 160 quilômetros de Roma.

Localizado na região mais alta dos Montes Apeninos, o hotel fica perto de algumas estações de esqui muito procuradas pelos europeus. Mas Mussolini não estava ali a passeio. Dois meses antes, o ditador havia sido deposto pelo rei Vittorio Emanuele III e transformado em prisioneiro.

Às 14 horas, o jogo de cartas foi interrompido quando oito planadores desceram perto do hotel. Sem disparar um único tiro, 72 paraquedistas de um comando especial da SS dominaram sem dificuldade os 150 soldados italianos que estavam no local.

O comandante da ação, o capitão Otto Skorzeny, entrou no quarto 211 e avisou: “Duce, fui enviado pelo Führer para resgatar o senhor”. Ao que Mussolini reagiu: “Eu sabia que meu amigo nunca me abandonaria”. Terminava assim a operação Eiche, uma das ações mais arriscadas da Segunda Guerra.

Pintura de Hitler /Crédito: Getty Images

 

Hitler admirava Mussolini, mas a operação Eiche tinha outra motivação: o primeiro-ministro que substituiu Mussolini, o marechal Pietro Badoglio, não resistiu aos ataques aliados e, no dia 8 de setembro, assinou um armistício. Hitler queria recuperar os aliados italianos, e não havia nenhum outro líder com a capacidade de mobilização de Mussolini.

Foi por isso que o Führer criou um grupo de operações especiais para localizar e resgatar o ex-ditador. A tarefa tinha um complicador: Hitler havia retirado todos os espiões da Itália. Seria preciso começar do zero.

Seis semanas

Otto Skorzeny e o general Kurt Student passaram seis semanas rastreando os passos de Mussolini. Descobriram que, depois de preso, ele havia sido mantido pelos carabinieri ("Arma dos Carabineiros", quarta Força Militar da Itália, que funcionava como uma espécie de Guarda nacional, militar e judiciária) em Roma. De lá foi transferido para a ilha de Ponza, para a base naval de La Spezia e, por fim, para uma vila na Sardenha. A um dia da ação alemã, o ditador foi transferido novamente.

Quando descobriram que o novo destino do Duce era a região do Gran Sasso, Skorzeny e Student agiram rápido. Depois de sobrevoar ao hotel duas vezes para um rápido mapeamento, os dois escolheram um método dos mais arriscados: desembarcar no hotel usando planadores com um comando de paraquedistas.

Mussolini /Crédito: Getty Images

 

Os planadores eram comuns na Alemanha desde os anos 20. Como o país estava proibido de manter uma Força Aérea, o governo usava essas aeronaves para treinar seus futuros pilotos de caças. Durante a Segunda Guerra, Hitler usou planadores sempre que era necessário invadir o território inimigo com rapidez e precisão.

Tal expediente foi usado com sucesso na invasão da fortaleza de Eben Emael, na Bélgica. Mas em grandes ações esses aviões eram alvos fáceis para as baterias antiaéreas. Ciente do risco que corria, o comando da operação Eiche esperava que as baixas chegariam a 70%.

Fator surpresa

Na manhã do dia 12, homens das forças especiais alemãs, portando fuzis-metralhadoras FG-42 de 7,92 mm, decolaram em 12 planadores DFS 230 da base de Practira del Mare, nos arredores de Roma. Três aeronaves perderam-se na decolagem e no voo, e uma quarta perdeu-se na aterrissagem, o que tirou 36 homens de ação – eram nove militares por aparelho, mais o piloto.

Ao mesmo tempo, soldados seguiam por terra para capturar o teleférico na base da montanha onde ficava o hotel e, com isso, isolar o local. Skorzeny sabia que o fator surpresa era fundamental, e que o moral dos soldados italianos estava baixo, já que o rei e o ex-general Badoglio haviam fugido do país dias antes.

Por isso, orientou seus homens a realizar uma ação rápida e a não atirar, a não ser em último caso. A estratégia funcionou. O comandante dos carabinieri no Campo Imperatore, o ex-general-inspetor Giuseppe Gueli, estava dormindo quando os alemães chegaram. Sua primeira e única instrução foi para todos se renderem. Fazendo isso, ele desobedecia a uma orientação recebida dias antes – se tentassem libertar Mussolini, ele deveria ser executado. 

A caminho do avião / Crédito: Reprodução

 

Mussolini foi levado para Viena e de lá para Munique, onde encontrou Hitler. Três dias depois, o líder nazista já havia despachado o amigo de volta para a Itália. Instalado na vila de Gargnano e cercado por homens da SS, no norte do país (que ainda não havia sucumbido aos aliados), Mussolini anunciou em 23 de setembro a fundação da República Social Italiana.

A experiência acabaria em abril de 1945, quando os aliados tomaram o restante do país. Mussolini e sua amante, Clara Petacci, foram presos por comunistas italianos. Os dois foram executados no dia 28 de abril, e seus corpos foram expostos em uma praça pública de Milão.


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