Escrita enigmática gravada em cerâmica pode revelar segredos sobre uma das primeiras sociedades urbanas conhecidas
Giovanna Gomes Publicado em 27/01/2025, às 11h25
O ministro-chefe de Tamil Nadu, Muthuvel Karunanidhi Stalin, anunciou em janeiro deste ano uma recompensa de US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 5,9 milhões) para qualquer especialista capaz de decifrar um enigmático código de 5.300 anos deixado pela civilização do Vale do Indo, também conhecida como Harappan.
Essa escrita, gravada em cerâmica, é considerada uma das mais antigas do mundo e está no centro dos esforços para desvendar o funcionamento de uma das primeiras sociedades urbanas conhecidas.
De acordo com a BBC, a civilização do Vale do Indo era formada por fazendeiros e comerciantes que habitavam cidades muradas feitas de tijolos.
Desde que foram descobertos, há cerca de um século, dois mil sítios arqueológicos relacionados a essa civilização já foram catalogados. No entanto, o motivo de seu súbito desaparecimento continua desconhecido, pois não há indícios de guerra, fome ou desastres naturais que expliquem o declínio.
Segundo a revista Galileu, os especialistas acreditam que a decodificação da escrita pode oferecer respostas para esses mistérios. As inscrições, que somam cerca de 4 mil registros conhecidos, geralmente consistem em textos curtos, com uma média de cinco sinais ou símbolos.
A dificuldade para interpretar o código reside não apenas no pequeno número de textos disponíveis, mas também na ausência de um artefato bilíngue que permita correlacionar os símbolos com outros sistemas de escrita conhecidos, como aconteceu com os hieróglifos egípcios por meio da Pedra de Roseta.
Recentemente, avanços tecnológicos têm impulsionado as pesquisas. Técnicas de aprendizado de máquina foram usadas para analisar a escrita e identificar padrões. Um estudo revelou que 67 sinais representam 80% da escrita do Indo, sendo o mais comum um símbolo que lembra um jarro com duas alças.
Os pesquisadores também descobriram que o número de sinais diminuiu ao longo do tempo, e alguns eram usados com maior frequência do que outros. Um modelo computacional foi criado para restaurar textos danificados, permitindo novas possibilidades de estudo.
“Mesmo que ainda não saibamos se os sinais são palavras completas, partes de palavras ou partes de frases, nosso entendimento é que o roteiro é estruturado e há uma lógica subjacente na escrita”, explicou Nisha Yadav, do Instituto Tata de Pesquisa Fundamental, em entrevista à BBC.
O prêmio de US$ 1 milhão foi anunciado logo após a publicação de um estudo que identificou conexões entre as inscrições do Vale do Indo e marcas encontradas em cerâmicas de Tamil Nadu.
A pesquisa examinou mais de 14.000 fragmentos de cerâmica de 140 sítios arqueológicos no estado e apontou que 60% dos sinais se assemelham aos da escrita do Indo. Além disso, 90% das pichações encontradas no sul da Índia possuem paralelos com os sinais da antiga civilização.
Apesar dessas descobertas, cientistas permanecem céticos em relação à eficácia do concurso. Muitos acreditam que a escrita do Indo continuará sendo um desafio, mesmo com os bancos de dados abrangentes já compilados e o uso de tecnologias modernas.
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