Junto com a esposa, o projeto de reflorestamento do artista pretendeu revitalizar Minas Gerais com milhões de árvores do cerrado em região que estava estéril
André Nogueira Publicado em 31/05/2020, às 10h00
Famoso fotógrafo brasileiro, conhecido por seus ensaios estilísticos em branco, Sebastião Salgado ganhou notoriedade por um projeto desenvolvido junto à esposa Lélia que consistiu em plantar mais de dois milhões de árvores nativas numa região do cerrado mineiro. A área estava estéril antes da intervenção do artista, afetada pela onda de desmatamento. O reflorestamento, proporcionado por Salgado, é resultado de 20 anos de cuidado, após o primeiro passo que foi o plantio das sementes.
O grande projeto teve inicio em 1994, quando o fotografo retornou ao Brasil após um importante trabalho realizado em Ruanda, na África. Ao retratar o genocídio realizado no país, Sebastião decidiu dar um tempo em seu trabalho. Tentando se recuperar do traumático episódio, o artista retornou à fazenda da família em Minas Gerais.
Entretanto, ao invés de proporcionar o conforto necessário, a fazenda causou mais um choque ao fotógrafo devido à esterilidade da terra. As plantas haviam sido dizimadas pelo desmatamento e a fauna fugira daquela região inóspita. Segundo Salgado, menos de 0.5% da terra era ocupada pela vegetação natural, o que o inspirou começar o projeto de reflorestamento.
O projeto saiu do papel em 1998, com a colaboração da fundação do Instituto Terra, que se dedica ao desenvolvimento sustentável e a melhoria dos ambientes naturais da região do Vale do Rio Doce, MG. Ao plantar dois milhões de sementes, o casal conseguiu restaurar mais de 1.700 acres de terra, que antes estavam inabitáveis para a fauna e a flora original da região. Atualmente, graças ao projeto, estão presentes na região não só as plantas colocadas pelo casal e o Instituto, mas também diversas espécies de animais - cujo nascimento foi possibilitado pela revitalização do ecossistema regional.
Como consequência, a área revitalizada foi determinada como Reserva Particular do Patrimônio Ambiental. Agora, a floresta abriga mais de 150 espécies de pássaros, quase 300 espécies de plantas, 33 espécies de mamíferos e 15 espécies de répteis e anfíbios. O processo de revitalização também recuperou o fluxo hídrico da área, restaurando nascentes importantes para o balanceamento natural do espaço.
Sebastião Salgado também apresentou uma perspectiva espiritual para o projeto e chegou e a se reunir com líderes religiosos com o objetivo de discutir os rumos do reflorestamento. Ele apontou que é importante para a iniciativa uma conexão entre a espiritualidade e a conexão com a terra, princípio que disse ter entendido com o primeiro projeto na fazenda de sua família. O conceito se aproxima muito da defesa feita por comunidades indígenas – que se baseia em preocupação com a terra e amor ao espaço que ocupamos.
A atitude de Salgado o aproxima de outras figuras mundiais com projetos parecidos. É o caso de Nathan Kyamanywa, que trabalha há 10 anos com o reflorestamento no oeste de Uganda, e Frederick Shoo, bispo anglicano que chegou a conversar com o fotógrafo na reunião realizada com líderes religiosos e hoje realiza trabalhos com o meio ambiente, voltados para a encosta do Monte Kilimanjaro, na Tanzânia.
Os esforços caminham em sintonia com a Fundação Nacional da Árvore, aqui no Brasil, que aponta que trabalhos pessoais com reflorestamento são essenciais na revitalização da natureza e são extremamente benéficos para o meio ambiente. Isso porque o retorno da flora local é essencial para o retorno dos recursos hídricos e da fauna natural, além da melhoria da qualidade de vida de quem habita a região - pela revitalização do ar e de áreas de convívio ao ar livre.
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