Famílias tentam limpar nomes de 'desertores' holandeses da década de 1940

Atualmente, famílias de 20 homens dos Países Baixos enfrentam uma longa batalha na Justiça, a fim de libertá-los da culpa de se recusarem a lutar para preservar a antiga colônia holandesa na Indonésia, na década de 1940.

Os homens, que ficaram conhecidos como "Indonesië-weigeraars" (“recusadores da Indonésia”), foram presos na época e acusado de ser "desertores, traidores e covardes". Agora, porém, os parentes destes homens buscam o reconhecimento para eles, como tendo estado do lado certo da história. 

Conforme repercute o The Guardian, uma investigação oficial do período em que as colônias inglesas afirmaram sua independência, após a Segunda Guerra Mundial, descobriu que aconteceu na Indonésia uma campanha militar fracassada que buscava reprimir o movimento de independência na área, mas que usou sistematicamente de "violência excessiva", massacrando centenas de moradores.

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Em 2022, o ex-primeiro-ministro Mark Rutte pediu desculpas pelo episódio, e seu governo concordou que os objetores punidos por se recusarem a prestar serviço militar poderiam ter suas reputações restauradas. "Queremos que os vereditos sejam cancelados porque nossos pais ainda estão registrados como desertores, traidores e covardes", afirma Nel Bak, de Middenbeemster, ao The Guardian.

Nel Bak, hoje com 68 anos, e sua mãe, que tem 95, pediram perdão para seu pai, Jan de Wit, que passou três anos preso ao lado de fascistas holandeses da Segunda Guerra Mundial. "Meu pai veio de uma origem comunista e respeitou o chamado pela independência [da Indonésia]. Ele achava que não tínhamos nada a fazer lá", conta a mulher.

Segundo uma investigação oficial, cerca de 120 mil homens foram convocados pelo governo holandês para "derrotar a República da Indonésia", que declarou independência em 17 de agosto de 1945. "A Holanda lutou uma guerra sem esperança que se tornou cada vez mais violenta… As forças armadas holandesas usaram violência extrema em uma base frequente e estrutural… em estreita consulta com e sob a responsabilidade do governo holandês", acrescenta a investigação.

Perdão histórico

Advogado que faz a campanha em nome dos objetores de consciência, Jurjen Pen afirma considerar injusto pedir aos parentes que provassem que os homens em questão sabiam sobre a violência que seriam forçados a cometer, visto que a comunicação era limitada e, durante década, o governo holandês negou todos os abusos cometidos. "Todas as sentenças deveriam ser apagadas", afirma.

O advogado ainda acrescenta que há três formas de a lei holandesa promover a reabilitação destes 20 homens: por um pedido de desculpas pelo tratamento impróprio de alguém, restaurando seu bom nome e, obviamente, perdoando-os completamente, apagando o veredito anterior. Esse último, por sua vez, seria o mais adequado para os "Indonesië-weigeraars", argumenta Pen.

A Holanda tem muito do que se envergonhar, em retrospecto, e é por isso que nenhuma anistia vem", conta Jurjen Pen ao Guardian. "É um passo que diz que estávamos completamente errados... e, na verdade, estávamos".

Já Klaas Meijer, porta-voz do Ministério da Defesa holandês, contraria e ponta que uma medida de perdão poderia ter um impacto significativo na capacidade da Holanda de resistir às novas ameaças do século 21:

"O [último] gabinete disse que [os homens] só podem ser reabilitados se for possível demonstrar que sabiam da violência extrema… Com uma razão. Ainda temos o serviço nacional, embora a obrigação de comparecer tenha sido suspensa. Se a ameaça da Rússia se tornasse tão grande que a guerra estourasse… Você puxa o tapete debaixo do serviço nacional".