Relatório publicado no periódico Science of the Total Environment analisou a morte de mais de 350 elefantes em Botsuana
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 29/11/2024, às 19h00
Um estudo publicado na Science of the Total Environment revelou que a misteriosa morte de mais de 350 elefantes no Delta do Okavango, em Botsuana, em 2020, foi causada por florações tóxicas de algas verdes-azuladas, conhecidas como cianobactérias, presentes na água.
O episódio foi descrito por cientistas como um “desastre de conservação” e apontado como reflexo das mudanças climáticas.
Os elefantes foram encontrados mortos entre maio e junho daquele ano, em situações que inicialmente intrigaram os especialistas. Relatos indicavam que os animais caminhavam em círculos antes de desmaiar e morrer, levantando hipóteses como envenenamento por cianeto ou doenças desconhecidas.
Davide Lomeo, pesquisador-chefe e doutorando em geografia no King's College London, disse que o incidente consiste em uma das maiores mortalidades de elefantes já documentadas, com causa até então inexplicada. "É por isso que gerou tanta preocupação", afirmou Lomeo.
Sem acesso direto à água contaminada, os cientistas obtiveram dados de satélite para analisar os 3 mil bebedouros da região. Eles identificaram que as áreas com florações de cianobactérias coincidiam com as maiores concentrações de carcaças.
Estima-se que os elefantes tenham percorrido até 100 km após ingerirem a água contaminada, morrendo cerca de 88 horas depois.
Os pesquisadores destacaram que o episódio se relaciona a condições climáticas extremas: o sul da África passou por uma seca severa em 2019, seguida por chuvas intensas em 2020. Esse cenário propiciou o acúmulo de sedimentos e nutrientes nos bebedouros, favorecendo o crescimento das algas tóxicas.
“Globalmente, este evento ressalta a tendência alarmante de doenças repentinas causadas pelo clima”, alertaram os cientistas.
Eventos semelhantes também foram registrados em outros países. Em 2020, 35 elefantes morreram no Zimbábue devido a bactérias associadas à seca prolongada. Já em 2015, no Cazaquistão, 200 mil antílopes foram vítimas do mesmo cenário.
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