Foto de crianças da tribo indígena Yanomami - Wikimedia Commons
Coronavírus

Estratégias ancestrais usadas pelos povos Yanomami para enfrentar a covid são analisadas em artigo da USP

A pesquisa trouxe uma investigação a respeito de como esse povo indígena resiste - e resistiu - às epidemias ao longo dos séculos

Giovanna de Matteo Publicado em 02/09/2020, às 09h19

Em estudo publicado no Jornal da USP, pesquisadores descreveram como os Yanomami, tribo indígena do rio Marauiá, no Amazonas, estão usando estratégias de enfrentamento contra o novo coronavírus.

Os estudos focaram em analisar como a pandemia atual impactou na vida desse povo indígena, comparando as situações e decisões tomadas por eles para resistir ao vírus, com as das populações urbanas.

Em semelhança às grandes metrópoles, a ordem dos Yanomamis também foi o isolamento social, porém, as diferenças gritantes entre as populações urbanas e a tribo é percebida no modo como eles percorrem esse processo de mudança social. Para quem nasceu e vive nos centros urbanos, aceitar e cumprir a quarentena não é uma situação muito confortável. A regra de "ficar em casa" gerou, em muitas pessoas, quadros de ansiedade, depressão, impaciência e sentimentos de privação. No entanto, o mesmo não aconteceu aos Yanomamis. Esse povo, que já está acostumado com mudança e deslocamentos, têm mais capacidade de adaptação e coragem para enfrentar as situações que fogem do cotidiano.

O locomover-se é uma prática e costume particular desse povo, que recorre aos métodos tradicionais de sobrevivência diante de crises. Assim, nesta pandemia, a diretriz seguida por eles foi “sair para o mato”, abandonando as aldeias em migração para a floresta, considerado local de refúgio e proteção, como a casa é para as populações urbanas. 

Já faz 19 anos que essa estratégia foi acionada pela última vez pelos Yanomamis, quando precisaram sair para o mato por conta de um incêndio nas áreas de agricultura, acabando com suas fontes de alimento. Agora essa prática ressurgiu como estratégia de resistência ao Covid-19.

Sérgio Pukimapɨwëteri, agente indígena de saúde, relatou no estudo o fato das comunidades estarem “reabrindo caminhos antigos no mato, se preparando para sair da aldeia […] e ir viver no interior da floresta, em acampamentos, onde um grupo familiar e eventualmente todo o grupo local passa a habitar temporariamente”, mantendo desse modo um distanciamento do "homem branco" e do mundo globalizado, como já foi feito outras vezes diante das outras várias doenças que os “brancos” sempre transmitiram aos povos indígenas, desde a era colonial.

Essas conversas com o povo indígena abriram discussões a respeito do modo como as diversas comunidades superam suas crises. Sair para o mato é praticar a wayumi, uma prática tradicional de mobilidade, que “segue viva e, junto com ela, a memória das epidemias que assolaram a região décadas atrás em momentos ímpares de instabilidade”, contam os autores do estudo.

Para os Yanomamis, estar o mais longe possível do contato com os não indígenas, se mobilizar, e abandonar as comunidades na beira dos rios é um “procedimento de inversão da política de atração e sedentarização, promovida direta ou indiretamente pelo Estado e seus agentes, é dizer não ao que não traz segurança. Sair de wayumɨ, das aldeias, e ir rumo ao mato, nesse contexto, mais do que uma inversão histórica, mostra-se uma técnica política de resistência”, afirmaram os pesquisadores. 

Indígenas coronavírus covid-19 Yanomami Primitivismo

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