Cenas do Massacre de Ruanda - Divulgação / Youtube / Fim Dos Tempos
Ciência

DNA das vítimas e descendentes do genocídio de Ruanda foi modificado pelo massacre

Estudo publicado no periódico Epigenomics avaliou as consequências dos cem dias de terror nos sobreviventes

Isabela Barreiros Publicado em 20/01/2022, às 10h00

Cerca de 800 mil pessoas da etnia tutsi foram massacradas no ano de 1994 em Ruanda, na África Oriental, por extremistas de outro grupo étnico da mesma região, conhecidos como hutus. O conflito gerou consequências drásticas não só na época, como ainda anos depois.

Segundo cientistas do Centro de Pesquisa em Saúde Global e Doenças Infecciosas e da Universidade do Sul da Flórida, o genocídio de Ruanda causou impactos psicológicos para os sobreviventes tutsis e seus descendentes mesmo três décadas depois do ocorrido.

Em um estudo publicado no periódico científico Epigenomics, os pesquisadores investigaram a relação entre os altos índices de depressão e TEPT (transtorno do estresse pós-traumático) registrados no país, visto que muitos dos que sofrem com os transtornos não eram nascidos na época ou estavam nas barrigas de mulheres grávidas.

Para entender a relação ou não desses danos psicológicos com o massacre, foram recolhidas amostras de mulheres que estavam gestantes em 1994, momento em que tudo aconteceu, para entender o que poderia ter resultado em elevados índices de transtornos.

Na pesquisa, os exemplares de DNA, que representavam as mulheres grávidas durante o genocídio, foram comparados aos de gestantes de outros lugares do planeta, o que possibilitou que os cientistas chegassem à conclusão de que o material genético das primeiras foi alterado pelo momento de terror ao qual elas foram expostas.

As modificações genéticas fizeram com que seus descendentes também fossem submetidos a genes relacionados a maiores riscos de desenvolvimento de transtornos mentais, como ressaltou a revista Galileu.

Trata-se de uma alteração genética intitulada de “epigenética”, em resposta ao ambiente ou estilo de vida, feita pelo próprio corpo humano. Ao presenciarem assassinatos, viverem perseguição e estupros, o DNA dessas pessoas acabou sendo alterado.

Mas, além de mudar o DNA das mulheres que viveram o massacre, os cem dias em que ele ocorreu também acabaram fazendo com que as crianças já nascessem com maior probabilidade de desenvolverem transtornos psicológicos, segundo apontou a pesquisa.

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