Escrito em 230 d.C., o segundo documento cristão mais antigo da História revela conversas descontraídas entre dos cristãos
Joseane Pereira Publicado em 17/07/2019, às 08h00
No ano 230 d.C., um cristão do Império Romano enviou uma carta ao seu irmão discutindo política e, por incrível que pareça, molho de peixe. Decifrado recentemente, esse documento revela muito sobre a maneira como os seguidores de Cristo eram tratados, mostrando que nem todos sofriam perseguições.
Papiro revelador
O documento foi datado e traduzido por Sabine Huebner, historiadora e professora da Universidade de Basiléia, na Suíça. Depois da Bíblia, esse é o documento cristão mais antigo já encontrado, e prova que os seguidores de Jesus podiam viver em relativa paz no Império.
Na carta, escrita de forma descontraída, um homem chamado Arriano tece ao seu irmão Paulus comentários sobre política local, e apela para que ele lhe envie seu molho de peixe favorito. O papiro esteve presente nos arquivos da Universidade por mais de um século, numerado como P.Bas. 2.43. Agora foi descoberto que ele veio da aldeia de Theadelphia, no centro do Egito, e fez parte do arquivo Heronino - o maior arquivo de papiros da época romana.
Arriano finaliza a carta desejando que seu irmão prospere no Senhor, uma forma abreviada da frase cristã "Eu oro para que você fique bem no Senhor". Segundo Huebner, “O uso dessa abreviação - conhecida como nomen sacrum neste contexto - não deixa dúvidas sobre as crenças cristãs do autor da carta. É uma fórmula exclusivamente cristã que conhecemos nos manuscritos do Novo Testamento".
O documento permite entender que os pais de Arrianus e Paulus eram funcionários públicos e proprietários de terras, fazendo parte da elite local. A coleção de papiros da Basileia compreende 65 artigos em cinco idiomas, que foram adquiridos pela Universidade em 1900 com a finalidade de ensinar estudos clássicos.
Agora, a datação e tradução do documento será uma importante peça para reconstruir as relações entre cristãos e romanos no passado.
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