Preso pela ditadura, Osmar Ferreira perdeu seu emprego em banco na época do regime militar e teve sua recontratação determinada pela Justiça
Eduardo Lima, sob supervisão de Ingredi Brunato Publicado em 04/05/2023, às 13h36
Em abril de 1964, Osmar Ferreira era um jovem funcionário de uma agência do Banco da Bahia, na cidade de Feira de Santana, e também era ligado à juventude do "Partidão", o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia 8 daquele mês, o bancário foi preso por um sargento do Exército. No cárcere, ele foi torturado e agredido. 12 dias depois, ele foi solto da prisão, mas demitido do banco.
Osmar, que hoje tem 80 anos, foi recontratado pelo banco Bradesco, que comprou o setor de varejo do Banco da Bahia na década de 1970 e acabou herdando os passivos da empresa. A readmissão veio por meio de ordem judicial, encerrando a disputa de 12 anos entre Ferreira e o Bradesco.
No dia 26 de abril, Osmar se apresentou para voltar a trabalhar no banco. Sobre sua demissão depois do golpe militar, ele disse à Folha de S.Paulo ter ficado surpreso:
A demissão foi uma surpresa porque eu trabalhava muito e gostava do que fazia. Cortaram pela cabeça uma carreira de sucesso. Eu ia ser muito bem-sucedido no banco."
Osmar Ferreira passou quatro anos na clandestinidade, trabalhando como caminhoneiro, e só conseguiu entrar na universidade em 1974, cursando Direito. Ele foi advogado durante 40 anos. Ele foi um dos reconhecidos pela Comissão de Anistia como um perseguido político da ditadura militar, e recebeu uma indenização de R$ 726 mil em parcelas mensais.
Em 2011, ele decidiu entrar com uma ação contra o Bradesco por conta de sua demissão em 1964 e voltou a se filiar ao Sindicato dos Bancários de Feira de Santana, onde, no início da década de 1960, ele teve contato com o prefeito Chico Pinto, ligado mais à esquerda, e participou da resistência contra a ditadura militar.
A Justiça não entendeu o pedido de indenização feito por Osmar, de R$ 5,4 milhões, mas determinou que ele fosse recontratado pelo banco. Se o Bradesco não cumprisse a decisão, pagaria uma multa de R$ 1.000 por dia. O banco não se manifestou sobre o caso para o jornal Folha de S.Paulo.
Ainda em entrevista à Folha, Osmar contou sobre sua experiência como perseguido político. "A dor e o sofrimento permanecem até hoje", explicou ele. "As bofetadas, os telefones [tapas fortes nos ouvidos que provocam surdez temporária], a tortura de um modo geral, inclusive a psicológica, não vão se apagar nunca. Isso vai morrer comigo", explicou o ex-advogado.
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