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Brasil

Adriano Diogo, que presidiu a Comissão da Verdade de SP, fala sobre a não condenação de militares da ditadura

Adriano deu sua visão em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História

Fabio Previdelli Publicado em 31/03/2021, às 10h14

Foi em 1º de abril de 1964 que um golpe dado pelos militares derrubou o governo de João Goulart. Com isso, durantes décadas, Atos Institucionais passaram a impedir a população de ser livre e aqueles que batiam de frente automaticamente eram alvo de tortura. 

Um dos casos mais chocantes do período se refere ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Nascido em 27 de junho de 1937, na cidade de Osijek, na antiga Iugoslávia — atual Croácia, Vlado se mudou para o Brasil e aqui estabeleceu sua carreira como jornalista, sendo lembrado para sempre como um dos maiores profissionais que o país já teve a honra de ter.

No entanto, acabou sendo vítima dos horrores do país durante a ditadura militar brasileira. No período, sua história terminaria mais cedo do que imaginava e de maneira trágica. Em um episódio que escancarou a brutalidade do período, sua morte nas mãos dos militares foi transformada num 'suicídio'. 

Saga militar do Brasil

Diante desse e de outros inúmeros casos, Adriano Diogo, que presidiu a Comissão da Verdade de São Paulo Rubens Paiva até seu fim, em 14 de março de 2015, explicou o que estaria por trás da não condenação de muitos nomes envolvidos nos episódios tétricos.

Entre os inúmeros casos, ele aponta o principal motivo pelo qual os militares conseguiram escapar de grandes condenações: a história militar do Brasil. 

“As pessoas acham que os militares ficavam só nos quartéis, ou nas escolas. Não, os militares sempre se apropriaram dos aparelhos do Estado. Então, quando Getúlio rompe com as potências do Eixo, em 1942/43, em Natal, na Conferência de Potengi e faz aquela mudança que culminou quando Roosevelt veio para o Brasil e transformou a cidade de Natal numa base militar americana; os militares acabaram arcando com todas as consequências daquele ato”, explica Adriano.  

Para ele, os militares detêm e detiveram os grandes negócios do país. “Então os militares, ao contrário do que se pensam, não ficam só nas academias, eles também se apropriam das Instituições de Estado”.   

Manifestação contra a ditadura no Rio de Janeiro, em 1968/ Crédito: Memorial da Democracia

 

“Então é muito importante observar essa história militar do Brasil. Antigamente havia uma concorrência entra a visão das Forças Armadas; entre os militares nacionalistas e os mais ligados aos interesses internacionais, mais neoliberais. A partir de 64, essa dualidade acabou. Só ficaram os militares ligados às potências estrangeiras”, completa.  

Ele acredita que os militares “se acham donos do mundo”, os únicos patriotas. “Depois da passagem do general Pazzuello no Ministério da Saúde, em plena pandemia, os militares se consideram perfeitos”.   

“Eles não cometem erros, não admitem críticas; eles acham que o Brasil não vive sem eles, que é impossível viver sem os militares. Isso é a mesma coisa que você justificar a existência da monarquia na Espanha e na Inglaterra até hoje”, conclui.   

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