Nos anos 1950, um oficial do exército americano registrou a vida por trás da Cortina de Ferro — e acabou acusado de espionagem
Paula Lepinski Publicado em 26/10/2019, às 10h00
Em fevereiro de 1952, o major Martin Manhoff desembarcou em Moscou para servir como assistente adjunto do exército na Embaixada Americana. Unindo a vantagem concedida pelo seu novo cargo e um pouco de talento fotográfico, Manhoff começou a registrar a vida na capital e por outras partes da União Soviética. O resultado é um retrato íntimo e vívido da vida por trás da Cortina de Ferro no início dos anos 1950.
A coleção de fotos coloridas e filmes 16mm revelam o rápido desenvolvimento da infraestrutura do Estado socialista, com a construção dos arranha-céus Sete Irmãs e outros projetos que simbolizam a ascensão da União Soviética como superpotência.
“Moscou é diferente de todas as cidades que vi. Não é Ocidental, nem Oriental, nem europeia. A maior parte da sua arquitetura é eclética, do século 18 e 19, enquanto praticamente todos os prédios novos, os arranha-céus de Moscou, são iguais aos de Nova Iorque. Mas entre tudo isso, (...) há prédios com estrutura de madeira. A maioria está recoberta com gesso, para que a construção de madeira não apareça exceto onde o gesso caiu. Por mais confuso que pareça, é tão confuso quanto tentar descrever Moscou”, afirmou Jan Manhoff, esposa de Martin.
Os registros também trazem algo extremamente valioso para a história: a única filmagem independente do funeral de Josef Stalin, que só havia sido divulgado por mídias oficiais.
Ao lado da esposa, Manhoff viajou para lugares virtualmente fechados para o mundo: Leningrado, hoje São Petersburgo; Murmansk, que abrigava parte da frota soviética; Kiev, então capital da República Socialista Soviética da Ucrânia; e Ialta, na Crimeia. O casal também embarcou pelo menos duas vezes no Expresso Transiberiano, uma vez para a região central da Sibéria e outra para a cidade de Khabarovsk, na fronteira com a China. Tudo isso com uma câmera em mãos.
“Se você conseguir imaginar hotéis e palácios do final do século 18 e do início do 19 transformados em açougues e lojas comuns você vai ter uma imagem justa. Tudo parece estranhamente fora de compasso, nada realmente se encaixa. E nada que é vendido parece novo, tudo parece de segunda-mão. Provavelmente nenhuma imagem da revolução seja mais clara. Os trabalhadores conquistaram o poder e não sabem bem como lidar com tudo isso”, disse Jan.
Manhoff deixou a União Soviética em junho de 1954, dois meses depois de ser acusado pelo jornal Trud de ter cometido espionagem durante a viagem no Expresso Transiberiano. Não há evidências diretas de que isso seja verdade — os registros militares não contém qualquer indício de que espionar a União Soviética era parte de sua função. Mas a recusa do governo dos Estados Unidos e da CIA em se pronunciar sobre o assunto deixa suspeitas.
Confira algumas fotos abaixo:
Ruas de Kiev, na Ucrânia
Mercado na Crimeia
Estudantes de Kolomenskoye
Banco da Cidade de Moscou
Nos trilhos do trem
Funeral de Stalin
Piscina Pública
Fila para loja de alimentos em Moscou
Loja de Departamento
Veículos presos em inundação na Ucrânia
Interior da União Soviética
Caminhão visto da embaixada americana
Esquina em Moscou
Parada em frente à embaixada dos EUA
Algumas filmagens feitas por Manhoff podem ser vistas no The Manhoff Archive.
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