Criticado por décadas, o estilo radical dos anos 50 a 70 começa a ser admirado novamente
Fábio Marton Publicado em 17/12/2018, às 10h00
Até pouco tempo atrás, era uma espécie em extinção. Dilapidados ou abandonados, diversos edifícios da escola brutalista, que foi dominante na arquitetura dos anos 50 a 70, terminaram demolidos. E quase ninguém chorou por eles: a opinião do público era de que eram atrocidades inseridas na paisagem sem qualquer compromisso com o entorno.
Em 1987, o príncipe Charles (que ainda odeia o modernismo), resumiu com graça a atitude: “Pelo menos um mérito você deve dar à Luftwaffe: quando eles derrubaram os prédios em Londres, não os substituíram por nada mais ofensivo que entulho”.
Que o brutalismo fira a sensibilidades mais conservadoras é parte da ideia. O termo veio do utópico Le Corbusier, que a vida toda defendeu uma espécie de reforma da sociedade pela arquitetura, permitindo (ou impondo, diriam os críticos) um modo de vida novo e racional. Usado pela primeira vez em 1951, tinha um sentido inocente: vem de béton brut, “concreto bruto”, material que se tornou uma de suas obsessões na fase final de seu trabalho. Levar o concreto às suas últimas possibilidades esculturais, ao mesmo tempo expondo-o como é, no lugar de cobri-lo com argamassa, pastilhas, pintura. Uma arquitetura direta, honesta, gritante.
O brutalismo atuou como uma reação de arquitetos, principalmente os de esquerda, à aceitação comercial de outro estilo de arquitetura moderna e radical, o estilo internacional, que virou o típico caixotão corporativo.
A ideia foi fazer algo propositalmente anticomercial. Ao mesmo tempo, a simplicidade da construção em concreto exposto permitia trabalhos baratos, “para o povo”.
Nos anos 80, brutalistas foram chamados de inumanos pelos pós-modernos. Hoje os arquitetos estão dando uma segunda chance a um estilo definitivamente agressivo, um gosto adquirido. E um testemunho do otimismo utópico do século 20.
Uma perfeita ilustração dos ideais do brutalismo: concebida para a Exposição Mundial de 1967, foi feita de 354 blocos pré-fabricados, formando 158 apartamentos, todos dotados de varanda, jardim e uma vista do rio. Era para ser popular, mas foi vítima do próprio sucesso. É um endereço concorrido – e caro.
O homenageado pela Biblioteca Geisel é Theodor Seuss Geisel – o amado autor infantil Dr. Seuss. Apesar do aspecto robótico – o português-americano William Pereira era famoso por criações futuristas –, o formato foi inspirado no de duas mãos segurando livros. Sete milhões deles sãob abrigados ali.
Raro exemplo de brutalismo aceito por corporações, a torre sem janelas, de 170 metros e 29 andares, em Nova York, foi uma massiva central de comutação telefônica da AT&T. Hoje é principalmente um data center. Opositores dizem que é dali que partem as ações de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA).
Toblerone é o nome pelo qual os moradores chamam seu lar na capital sérvia. A antiga Iugoslávia comunista adotou com gosto o estilo. Abraçar o modernismo foi parte da política do Marechal Tito de se distanciar ao máximo de Stalin, que favorecia um estilo neoclássico. Com a ascensão do reformista Krushchiov, em 1955 a URSS aderiu ao estilo.
São Paulo é um dos epicentros do brutalismo mundial. A chamada Escola Paulista de arquitetura – fundada pelo curitibano Villanova Artigas (1915-1985) – deixou vários exemplos icônicos na cidade. Autora também do prédio do Masp, Lina Bo Bardi transformou uma fábrica num ainda muito apreciado centro cultural.
Hoje tombada pelo patrimônio histórico e atração turística, a habitação popular foi tão odiada que seu arquiteto inspirou o nome de um vilão de James Bond. Decadente logo após aberta, foi chamada de Torre do Terror. Os elevadores são no prédio ao lado e as pontes não atendem todos os andares porque as unidades são duplex.
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