Entre 1964 e 1985, o Brasil enfrentou um dos momentos mais sombrios de sua história: a ditadura militar, período em que artistas foram censurados, presos e até torturados
Éric Moreira Publicado em 04/02/2024, às 18h00
Era 1 de abril de 1964 quando se iniciou um dos períodos mais turbulentos da história recente do Brasil: a ditadura militar. Foi nesta data que os militares promoveram um golpe de Estado, depuseram o então presidente eleito João Goulart e iniciou-se um período de mais de 20 anos de perseguições, repressão e medo por todo o país.
No caso, razão para tanto medo era que quaisquer pessoas ou demonstrações de oposição ao regime eram duramente reprimidas. Foi nesse período que inúmeros políticos de esquerda — uma clássica pauta dos militares era o "combate ao comunismo" —, estudantes, intelectuais e artistas foram censurados, presos, torturados e até mesmo assassinados.
Nesse contexto, a arte, em especial, foi afetada: enquanto os militares censuravam diversas obras consideradas subversivas, novas formas de criticá-los surgiram.
O órgão do governo responsável monitorar produções midiáticas — seja música, cinema, revistas, jornais, etc. — e censurá-las era o DCDP (Divisão de Censura de Diversões Públicas). Obras artísticas ou grandes publicações não poderiam chegar ao público sem, antes, serem fiscalizadas pelos militares.
Ainda assim, muitos artistas não se intimidavam, e seguiam se impondo como membros de uma oposição que lutava pela liberdade de expressão. Infelizmente, vários deles foram presos. Confira a seguir cinco exemplos:
Um dos maiores nomes do MPB, Caetano Veloso foi censurado inúmeras vezes durante a ditadura e até mesmo preso durante dois meses, em 1968. A prisão ocorreu 14 dias depois da instauração do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que ocorreu no dia 13 de dezembro de 1968 e marcou o início do período mais rígido de toda a ditadura.
Segundo a Rolling Stone Brasil, mesmo que não estivesse envolvido com nenhuma entidade política, ele foi acusado de produzir músicas com letras libertárias, além de ter "desrespeitado o hino nacional". Após solto, foi para Londres, na Inglaterra, onde se exilou.
Eterna rainha do rock brasileiro, Rita Lee também foi perseguida durante o regime militar e sempre esteve envolvida com grupos sociais ou artísticos que frequentemente se posicionavam contra a ditadura.
Assim como Caetano Veloso, ela também foi presa, em 1976, mas dessa vez por portar maconha. No entanto, foi um momento tenso para a artista: descobriu pouco tempo antes que engravidou. Ela só conseguiu ser liberta graças à ajuda de Elis Regina, que a visitou e ajudou em sua defesa.
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Outro grande nome do MPB, Gilberto Gil foi preso com Caetano Veloso após um espetáculo com a banda Os Mutantes na boate Sucata, no Rio de Janeiro. Vale mencionar que, nesse show, também participou a própria Rita Lee.
Preso, Gil compôs duas canções conhecidas ainda hoje: 'Cérebro Eletrônico' e 'Vitrines', ao anotar versos em páginas de revistas. Assim como Veloso, ele se exilou em Londres depois de solto, retornando ao Brasil somente em 1972.
O "Maluco Beleza" Raul Seixas, por sua vez, sofreu de maneira dura a repressão dos militares: em 1974, ele foi preso enquanto voltava de um show, tendo permanecido detido e torturado por duas semanas.
Ao jornalista André Barbosa, para a extinta rádio FM Record de São Paulo, o cantor contou ter sido mantido preso em um lugar subterrâneo, onde apanhou e levou choque dos militares.
Como já mencionado, não apenas os músicos sofreram com a repressão da ditadura. O aclamado cineasta brasileiro Glauber Rocha também foi preso.
Na ocasião, era novembro de 1965, apenas o ano seguinte à instauração do regime militar, quando o cineasta foi preso com um grupo de intelectuais após um protesto contra a ditadura em uma conferência da OEA (Organização dos Estados Americanos).
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No entanto, como Glauber Rocha já era uma figura de destaque internacional, a notícia repercutiu mundialmente, o que culminou em sua eventual libertação. Ele também exilou-se do Brasil, em dois momentos da ditadura: de 1972 a 1976, e entre 1980 e 1981.
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