Cerca de 1.500 pessoas morreram após o RMS Titanic colidir contra um iceberg em 15 de abril de 1912
Fabio Previdelli Publicado em 21/06/2023, às 17h58 - Atualizado em 11/07/2023, às 18h13
No último domingo, 18, o submarino Titan iniciou sua viagem até os destroços do RMS Titanic — que descansa a 3.800 metros de profundidade no fundo do Oceano Atlântico.
A cada quinze minutos, o transporte enviava um sinal para a estação Polar Prince. Mas por volta das 15h do Greenwich Mean Time (GMT), o que seria o meio-dia do horário de Brasília, de segunda-feira, 19, o último sinal foi emitido. Desde então, as buscas pelo Titan começaram. Em junho, a Guarda Costeira dos Estados Unidos confirmou que os restos do submersível foram encontrados e que todos os tripulantes faleceram.
O famoso RMS Titanic naufragou em 15 de abril de 1912, dias depois de deixar o porto de Southampton, na Inglaterra. O navio tinha como destino a cidade de Nova York, nos EUA.
Segundo dados do Museu Smithsonian (EUA), 1.522 passageiros e tripulantes morreram, enquanto o Museu Real de Greenwich (no Reino Unido), diz que o incidente vitimou 1.503 pessoas. Mas a grande questão é: existem restos mortais por lá?
Quando o Titanic colidiu contra o iceberg, alguns botes salva-vidas foram usados por parte da tripulação. Ao todo, 705 pessoas sobreviveram à tragédia. Além disso, aponta o site The Week, 340 corpos foram encontrados boiando em seus coletes salva-vidas. Mas o que aconteceu com as demais vítimas?
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Em 2012, uma foto de 2004 veio à tona mostrando o que parece ser um casaco e botas afundados perto da popa do Titanic. Assim levantando o debate a respeito de possíveis restos mortais de viajantes em meio aos destroços do navio.
Para fazer o clássico Titanic, de 1997, James Cameron visitou o Titanic em 33 ocasiões. Em entrevista o The New York Times, o diretor falou sobre o assunto, embora visivelmente irritado.
Não vi nenhum resto humano", afirmou.
Mas se Cameron não avistou nada, o que pode ter acontecido com os corpos? Especialistas possuem interpretações diferentes para tal questão. Uma análise bem aceita é que a correnteza do mar espalhou os corpos dos passageiros com coletes por uma área de mais de 80 quilômetros do local do naufrágio.
Outra versão aponta que centenas de tripulantes teriam ficado presos dentro do navio enquanto ele afundava. Desta forma, o estado de conservação dos restos mortais dependeria de quanto os mesmos estiveram expostos à oxigenação da água e aos necrófagos do fundo do oceano.
"A decomposição diminui se os corpos forem isolados do mar aberto, reduzindo os níveis de oxigênio e os necrófagos", explica o jornalista científico William J. Broad ao The New York Times. "O interior de velhos destroços rendeu ossos, dentes e, às vezes, corpos inteiros."
A maneira como as botas estão dispostas na foto, que também mostra o que parece ser um casaco enterrado perto da popa do Titanic, levou James Delgado, diretor de patrimônio marítimo da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), a sugerir que o calçado estava sendo usado por uma pessoa quando ela ainda estava viva. "Foi claramente aqui que alguém parou no fundo", disse. "[A foto] fala poderosamente sobre este [local] ser um túmulo”, prossegue.
Uma versão recortada da imagem é mostrada em um livro escrito por Robert Ballard, que liderou a equipe de investigadores responsável por descobrir os destroços do Titanic, em 1985. Ele também trabalhou na expedição de 2004, organizada pela NOAA, quando a foto foi feita.
O registro foi mostrado ao público dias após o então senador democrata John Kerry, de Massachusetts, apresentar um projeto de lei que daria ao Departamento de Comércio mais poder para proteger o Titanic de caçadores de artefatos e expedições intrusivas, que ocorriam desde 1987. Se o local for essencialmente declarado um cemitério submarino, isso reforçaria o argumento do governo.
Por outro lado, há quem insista que todos os corpos no local já se decompuseram há muito tempo, argumentando contra a designação do local como um cemitério. "Nós vimos roupas", disse Cameron ao The Times. "Vimos sapatos. Vimos pares de sapatos, o que sugere fortemente que havia um corpo ali em algum momento. Mas nunca vimos restos humanos."
As falas são usadas contra a NOAA, uma filial do Departamento de Comércio, acusada de exagerar as evidências fotográficas como parte de uma tomada de poder.
Ao MailOnline, Delgado explicou que 'até os dentes se dissolvem' ao encontrar períodos prolongados no fundo do oceano, marcado principalmente por vida microbiana, como bactérias. O Daily Mail, então, repercute que os corpos das vítimas do Titanic teriam se decomposto ou sido consumidos por peixes, bactérias e até mesmo crustáceos.
A respeito dos ossos, John Cassella, que é cientista forense da Atlantic Technological University Sligo, Irlanda, explica a água salgada não é favorável. "O osso é feito de um mineral chamado hidroxiapatita, composto principalmente de cálcio e fosfato, mas muitas outras moléculas menores", explicou ele ao MailOnline. "A água vai ajudar na dissolução ou na dissolução deste mineral ósseo e, claro, das frágeis proteínas orgânicas que ajudam a unir o osso".
Quem também refletiu sobre o assunto foi Dame Sue Black, professora, antropóloga forense e presidente do St John's College da Universidade de Oxford: "Na realidade, é o dano causado pela predação que causa a destruição", explicou ao veículo. "A vida marinha vê os ossos como um reservatório de cálcio a ser explorado".
O fato é que, até a atualidade, nunca se constatou se corpos e esqueletos estão presos ou 'descansam' dentro dos destroços do RMS Titanic. E devido à profundidade do naufrágio, é possível que tal questionamento nunca seja resolvido.
A questão de saber se os sapatos, conforme retratados nas fotos, constituem evidência de restos humanos no fundo do oceano provavelmente se resume à semântica, aponta Delgado, que discute que os corpos podem ter sido reduzidos a sedimentos nas botas e sob o casaco: "Eu, como arqueólogo, diria que são restos humanos", enquanto exploradores como Cameron podem chamá-los de lama.
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