Durante a Grande Fome que assolou o país nos anos 1990, surgiram relatos de pessoas sentenciadas por comer carne humana
André Nogueira Publicado em 28/08/2019, às 11h00
Entre 1994 e 1998, a queda na importação de grãos proporcionada pelo colapso da URSS, somada a uma série de secas e inundações conjuntas no país, criou uma crise de fome na Coreia do Norte que pode ter matado 10% de sua população. Foi neste cenário que nasceram os rumores dos canibais da Coreia.
Um dos polos populacionais da época, o centro industrial de Chongjin, se tronou refúgio dos que saíam do campo. Com a fome proporcionando situações absurdas, o medo do canibalismo tornou-se real. As crianças não podiam ficar sozinhas nas ruas e as pessoas evitavam a carne.
Em relatos oficiais, só há indicação de um homem que teria sido preso e executado por consumo de carne humana. A repórter Barbara Demick, que acompanhou a vida cotidiana de muitos norte-coreanos, concluiu que “não parece que a prática foi generalizada”.
No entanto, alguns estudiosos apontam que a prática é mais comum do que estamos normalmente acostumados a associar. Jasper Becer, responsável por uma obra que destrincha a grande fome ocorrida na China, levanta que foram generalizados os relatos de canibalismo. Testemunhos da Coreia apontam também a ocorrência dessa tragédia em muitos lugares, onde a fome gera a loucura e o desespero.
Há relatos ocidentais recentes alegando que a prática (gerada por focos microeconômicos de fome) ainda ocorre na Coreia do Norte. Estas afirmações correm a mídia ocidental, proporcionando angústia e desavença. No entanto, muitos observadores do país são extremamente céticos em relação a essas afirmações sensacionalistas, que, no limite, existem para fragilizar o regime norte-coreano.
Porém, os casos de micro-fome são, sim, consideravelmente preocupantes para essas pessoas e é válido apontar casos extremos de canibalismo proporcionados pela angústia da aração.
Talvez as histórias de canibalismo não sejam nada mais que isso: rumores, histórias de duas décadas antes que se transformaram em folclore. Porém, é impossível desviar do fato de que esse tipo de relato se origina, inevitavelmente, de situações de carência, fome e colapso social.
O sistema norte-coreano foi insuficiente para suprir essa necessidade, mesmo que o Estado tivesse esse tipo de necessidade como prioritária. A fome ocorre em muitos lugares do mundo, sempre com uma origem humana: no Congo, o problema é o custo de distribuir, pelo alimento ser um produto; na Coreia, falta a administração humanitária, no caso de escassez como foi a dos anos 1990.
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