Sabe aquela história de “origem pagã”? Não é tão simples assim
Fábio Marton Publicado em 21/04/2019, às 03h00 - Atualizado em 07/04/2023, às 14h44
A resposta que a internet vai dar é: “nada”. Seriam meros símbolos pagãos absorvidos pela Igreja. Mas isso é uma simplificação inadequada. Que, ainda assim, só explica metade da história.
A Páscoa cai por volta do equinócio de primavera. Ela herda, com modificações, a data do Pessach judaico. A festa celebra a fuga dos judeus do Egito.
Ainda que exista a teoria que o Pessach seja uma herança de rituais de primavera pré-judaicos, seria absurdo falar em origem pagã da Páscoa: a data foi escolhida porque Jesus foi martirizado num Pessach, sua ligação com o equinócio é coincidência.
Mas essa coincidência teve suas consequências. Entre os povos germânicos, celebrações eram feitas em nome da deusa da primavera, Eostre. Ainda hoje, Páscoa se chama Easter em inglês e Oster em alemão.
O ovo colorido é uma invenção incrivelmente antiga: um deles, encontrado na África, é de avestruz. Acredita-se que foi feito há 60 mil anos. Egípcios e muitos outros povos da antiguidade decoravam ovos para celebrar a primavera.
Os primeiros ovos cristãos surgiram ainda na Antiguidade, quando fieis da Mesopotâmia passaram a pintar ovos de vermelho, representando o sangue de Cristo. Eslavos, que também tinham uma forte tradição de pintar ovos, continuaram a fazê-lo após se converterem.
Como os ovos já estavam impregnados na cultura, teólogos passaram a justificá-lo como um símbolo do renascimento de Jesus da tumba, surgindo como um pintinho recém-nascido e deixando para trás uma casca (no caso a tumba) vazia.
Mesmo que o coelho tenha sido usado por religiões pagãs como símbolo de fertilidade, sua origem não parece ter, como o ovo, qualquer relação direta com essas tradições. Existe a teoria de que lebres eram símbolo da deusa Eostre, mas é bastante controversa.
A ideia mais aceita é a de uma interpretação puramente cristã. Antigos naturalistas, como Plínio, o Velho, acreditavam que coelhos podiam se reproduzir assexuadamente, botando ovos. Teólogos medievais passaram então a usá-los como símbolo da Virgem Maria, já que se reproduziam virgens. Isso foi parar na decoração de igrejas e até num quadro renascentista.
No século 16, alemães juntaram o ovo e o coelho, criando um análogo ao Papai Noel que só dava ovos para as crianças que se comportassem. Na época, o bicho original era a lebre, mas foi amansado para o parente doméstico.
Começou aí a saga do Coelho da Páscoa como símbolo para o resto do mundo. E que fique claro: por séculos, eram ovos de galinha cozidos e pintados dados na Páscoa. Como os ovos eram proibidos na quaresma, eles eram vistos como uma dádiva, um grande presente, e parte do banquete de Páscoa. O chocolate só foi ganhar forma no século 19.
Why Easter is called Easter, and other little-known facts about the holiday, Brent Landau, The Conversation
The very strange history of the Easter Bunny, Katie Edwards, The Conversation
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