O grande vencedor do Oscar de 2020 retrata a realidade muitas vezes problemática, de algumas moradias da Coreia do Sul
Penélope Coelho Publicado em 06/07/2021, às 11h01 - Atualizado em 27/03/2022, às 09h00
No ano de 2019, o cineasta sul-coreano Joon-ho lançava o filme ‘Parasita’, que desde o início despertou a atenção do público por sua crítica social consistente. Vencendo o prêmio Palma de Ouro, a produção logo entrou para a lista dos nomeados ao Oscar, maior prêmio do cinema.
Em 2020, o longa quebrou as expectativas e venceu o prêmio na categoria de Melhor Filme, tornando-se a primeira produção estrangeira, ou seja, não norte-americana, a levar o principal troféu da noite, além de ter recebido o maior número de estatuetas da premiação daquele ano.
Recentemente, o filme voltou a ser comentado após ser exibido no programa Tela Quente, da Rede Globo.
Parasita (2019) chama a atenção por retratar uma história de diferentes classes sociais, na Coreia do Sul. No filme, a família de Ki-taek, vive sob condições precárias em um porão apertado.
Em disparidade, a família de seus patrões — pais de uma menina rica para quem ele dá aulas de inglês — vive em uma mansão. Logo, os parentes de Ki-taek conseguem se infiltrar também como funcionários na luxuosa casa, que demonstra um padrão de vida bem diferente daquele em que estão inseridos. Até que uma reviravolta surpreendente muda toda a situação.
Após o sucesso do filme, o diretor e roteirista de Parasita (2019) revelou que a ideia do roteiro surgiu inicialmente da própria vivência.
Especialmente, quando se trata dos porões subterrâneos, que são uma realidade em Seul, capital da Coreia do Sul. Em fevereiro de 2020, a repórter da BBC, Julie Yoon, retratou a realidade desse tipo de moradia no país.
Segundo divulgado na reportagem, tais porões são conhecidos como banjiha, eles servem de moradia para milhares de pessoas que buscam uma vida melhor no país, em sua maioria os jovens no início de carreira, que procuram aluguéis baratos.
Esses porões surgiram no final da década de 1960 e são heranças dos conflitos entre as Coreias do Norte e do Sul. Na época, temendo que as batalhas se intensificassem, o governo sul-coreano alterou as regras das construções civis, exigindo que edifícios com quatro andares ou menos tivessem porões, para que em caso emergencial, o local servisse de abrigo.
No começo, o aluguel desses porões era proibido, mas, na década de 1980, o país vivenciou uma grande crise e o a Coreia do Sul passou a legalizar a moradia nos banjihas, em decorrência da falta de espaço em Seul.
Com o aumento do preço dos aluguéis em residências padrão na capital, morar nesses porões se tornou uma alternativa viável para a população em ascensão.
Segundo revelado na reportagem, pessoas que moram em banjihas sofrem de diferentes maneiras. Inicialmente pelo aperto do local e pelas difíceis condições.
Ao visitar os porões, Julie se deparou com uma difícil realidade enfrentada pelos habitantes: falta de luz solar, falta de privacidade – já que as janelas são baixas, além de certos tipos de vandalismo.
Não é incomum que as banjihas sejam alvos de pessoas que passam pelo lado de fora, pelo fácil acesso, é infelizmente usual que bitucas de cigarro sejam jogadas dentro das casas. Outro problema está ligado à umidade, que gera mofo.
Além disso, o espaço também pode ser complicado, pelo fato de o teto ser baixo, a locomoção é difícil, principalmente no banheiro, que fica a cerca de meio metro acima do nível do chão. Os moradores desses porões também enfrentam preconceito e o estigma social relacionado a essas moradias.
Contudo, os entrevistados afirmaram que apesar das dificuldades, não se abalam com os comentários negativos e seguem sua vida poupando dinheiro para que futuramente tenham melhores condições.
Por fim, essa realidade revela que a Coreia do Sul, país que está em 11° lugar no ranking que mede as maiores economias do mundo, ainda tem muito a fazer em relação às diferenças sociais em seu território.
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