Michael Jackson na varanda do casarão - Divulgação
Brasil

O que aconteceu com a casa onde Michael Jackson cantou no Pelourinho?

Em 1996, o Rei do Pop descia na Bahia para gravar o clipe "They Don't Care About Us", deixando sua marca no Centro Histórico de Salvador

Wallacy Ferrari Publicado em 17/10/2020, às 10h00

Em 10 de fevereiro de 1996, Michael Jackson descia em terras tupiniquins pela terceira vez, mas dessa vez, não era em turnê; o Rei do Pop fazia questão de enaltecer o calor humano brasileiro com os problemas sociais evidentes de duas localizações desprovidas de amparo social — favelas do Rio de Janeiro e de Salvador.

A música escolhida para ter as comunidades brasileiras como ilustração era a composição “They Don’t Care About Us” (“Eles não ligam para nós”, em tradução livre), que falava sobre o desamparo governamental, a violência policial e a necessidade de manifestações, citando Franklin Roosevelt e Martin Luther King.

A visita, inicialmente contestada pelo então secretário estadual de Comércio e Turismo do Rio de Janeiro, Ronaldo Cezar Coelho, alegando que a produção poderia influenciar a imagem do Brasil de maneira negativa, acabou sendo autorizada pelo Itamaraty, que não apenas autorizou a vinda e captura dos cenários, como destacou que "não se pode tentar esconder uma realidade que existe no país".

 

Michael no casarão baiano

Enquanto o Olodum fazia cansativos ensaios de sincronia junto ao diretor Spike Lee, a Polícia Militar preparava uma operação ostensiva para receber o cantor americano, de maneira que o mesmo se sentisse seguro. No entanto, Michael não fez ensaios.

No momento que as câmeras começaram a gravar, o músico apenas dançava, cantava e interagia da maneira que sempre fez na carreira, repetindo meticulosos passos de dança enquanto brincava com membros da bateria e com moradores.

Dessa forma, o cantor e o diretor concordaram em entrar em um casarão azul para gravar duas cenas; a saída, dando de cara com os policiais em forma, e uma na varanda, ambos improvisados por Spike na ocasião. Os responsáveis pelo casarão — um casal de italianos — autorizaram sem problemas, possibilitando a entrada das cenas na edição final do clipe.

Por anos, os donos não fizeram questão de explorar a visita de Michael financeiramente, visto que o casarão era tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e já fazia parte do Centro Histórico de Salvador. Na entrada da década de 2000, no entanto, os proprietários possibilitaram o aluguel do local, abrindo a oportunidade para um comerciante enaltecer a memória do músico.

Varanda onde Michael Jackson gravou com cartolina em tamanho real do cantor / Crédito: Divulgação

 

Visando o lucro

O comerciante Carlos Alberto foi o homem responsável por alugar o casarão após juntar dinheiro vendendo máquinas, pilhas, filmes e cervejas. Pagando um valor mensal, o homem passou a comercializar todo tipo de produto personalizado com a figura de Michael Jackson, desde chaveiros, camisetas, chinelos e outros artefatos. Dentro da loja, há um telão instalado, reproduzindo o clipe gravado no casarão em looping.

A visita na varanda, entretanto, foi idealizada por criança, como contou ao jornal A TARDE, em 2015: "Uma menina, uma criancinha, estava aqui comprando com a mãe e pediu para tirar foto na sacada. Aí, eu tive a ideia de fazer esse marketing. Quem compra qualquer coisa pode tirar a foto 'de graça' lá". A prática começou em 2008, mas passou a ter mais visitas no ano seguinte, quando o ídolo faleceu.

Segundo as últimas notícias, o casarão está à venda, avaliado pela última vez em 2015, tendo o valor de R$ 1,1 milhão — quase o dobro do valor de imóveis semelhantes ao redor. No entanto, Carlos continua trabalhando com a imagem do ídolo na localidade.

Quando perguntado sobre onde estava no dia da gravação, o comerciante respondeu de maneira bem humorada: “Eu mesmo perdi tudo, porque não acreditei que ele viria e fui trabalhar”.


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