Cena do clássico 'Titanic', de James Cameron - Divulgação
Titanic

Titanic: Filme causou polêmica entre herdeiros de Picasso e James Cameron

Clássico do cinema, filme estrelado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio gerou confusão entre herdeiros de Picasso e James Cameron

Fabio Previdelli Publicado em 22/10/2023, às 15h00 - Atualizado em 23/10/2023, às 19h19

Titanic chegou às telas de cinema em 1997. Dirigido por James Cameron e protagonizado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, o longa se tornou um clássico. De quebra, ainda arrecadou cerca de 600 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos.

Embora seja baseado no naufrágio real do famoso RMS Titanic, que afundou em 15 de abril de 1912 — deixando mais de 1.500 mortos —; a produção usa de liberdade poética para contar a história; ou seja, nem tudo mostrado no filme aconteceu de fato.

+ Os músicos continuaram tocando enquanto o Titanic afundava?

E uma dessas cenas 'imaginadas' por Cameron rendeu um processo contra os responsáveis pelo espólio do pintor cubista Pablo Picasso. Mas, o que aconteceu?

O pintor Pablo Picasso/ Crédito: Domínio Público

 

Uso indevido

A tragédia com o naufrágio do RMS Titanic, que partiu do porto de Southampton (na Inglaterra) com destino à Nova York (Estados Unidos) não causou apenas perdas de vidas. Afinal, a embarcação também serviu para frete comercial.

O sobrevivente William E. Carter, por exemplo, levava seu Renault Type CB Coupe de Ville, que foi transportado no Titanic. Havia também coleções de livros, centenas de caixas de vinho e, é claro, diversas obras de arte.

Para representar a perda dos bens materiais, James Cameron consultou o espólio do pintor Pablo Picasso para usar a obra "Les Demoiselles d'Avignon". Conforme aponta matéria do jornal O Globo, porém, o quadro faz parte da coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa); portanto, não só não esteve presente no Titanic como também, obviamente, não foi perdido na tragédia.

Registro do quadro 'Les Demoiselles d'Avignon' , de Pablo Picasso / Reprodução / Museu de Arte Moderna de Nova York

 

Desta forma, o pedido foi negado a James; visto que os herdeiros de Picasso não queriam que as pessoas tivessem uma ideia errada sobre a pintura. O The New York Time reiterou que a obra, pintada em 1907, jamais foi perdida no Atlântico Norte. Ela faz parte do acervo do MoMa há décadas e foi justamente por isso que o espólio de Picasso recusou o pedido. 

No entanto, o cineasta não se intimou. O portal Público, de Portugal, aponta que mesmo assim Cameron usou uma cópia do quadro original nas gravações. Imagens da pintura, aliás, aparecem no corte final do longa.

A primeira vez se dá quando Rose chega em sua cabine e pendura alguns quadros na parede. Já no final do filme, após o naufrágio, James Cameron mostra "Les Demoiselles d'Avignon" perdido no mar e afundando aos poucos.

O fato fez com que a Sociedade dos Direitos dos Autores, que trabalha para proteger a propriedade intelectual de mais de 50 mil artistas, abrisse um processo contra Cameron. Resultado? Ele teve que pagar uma multa — o valor jamais foi revelado.

"De acordo com a lei de direitos autorais, o artista, ou seus herdeiros, mantêm o controle da imagem original por 70 anos após a morte do artista. Picasso morreu em 1973, portanto, a família de Picasso continua a deter os direitos autorais até 2043", explicou a entidade ao Daily Edge.

Mas a confusão não acabou por aí. Em 2012, o naufrágio completou 100 anos e James Cameron aproveitou para relançar Titanic nos cinemas, desta vez com a tecnologia do 3D. A nova exibição fez a Sociedade dos Direitos dos Autores entrar em ação novamente.

A nova versão do filme em 3D viola o acordo. Os direitos do artista têm de ser negociados e clarificados, este é um novo uso do trabalho", explicou Theodore Feder, chefe-executivo da entidade, ao The Art Newspapaer.

Segundo o The New York Times, James Cameron pagou uma nova taxa para licenciamento da obra, mas apenas para a cena da cabine. O momento em que o quadro submerge nas águas, "Les Demoiselles d'Avignon" foi substituído por uma pintura de Edgar Degas: L'Étoile. Um fato curioso é que o quadro tampouco esteve na embarcação, mas ele foi usado por se tratar de uma obra já em domínio público. 

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