Considerada mito por muito tempo, a grande bravata aliada terminou confirmada por um veterano alemão
Thais Uehara Publicado em 01/10/2019, às 06h00
Na guerra, o engodo é uma tática inestimável. Fazer o adversário desperdiçar recursos no alvo errado pode ser a diferença entre a vitória e a derrota
Na Segunda Guerra, ambos os lados usaram de estruturas e veículos fictícios para atrair o inimigo, às vezes com efeito decisivo, como quando os aliados criaram tropas de mentira para convencer os alemães que o ataque do Dia D seria em Calais, não na Normandia.
Entra o aeródromo de madeira. Uma obra-prima da pseudo-engenharia: continha hangares, tanques de combustível, caminhões, aeronaves e baterias antiaéreas.
Um alvo assim tão apetitoso atraiu a reação do inimigo. Que veio, certeira, na forma de uma bomba... de madeira. Nela estava pintado Wood for Wood (madeira por madeira).
A história pipoca em relatos de veteranos e civis desde a própria guerra. O caso é que a obra teria demandado tanto tempo que os espiões das forças aliadas descobriram a farsa. E planejaram a deliciosa resposta.
Bombas falsas certamente existiam: eram usadas como uma ameaça, para desmoralizar as forças inimigas, para despejar panfletos de propaganda ou para simular ataques.
Mas teriam as duas se encontrado?
Valor duvidoso
Historiadores sempre foram céticos. Não faz sentido estrategicamente: assim como o fato de um engodo ser um engodo, o de você não estar sendo tapeado por ele é uma informação preciosa.
Ao responder com uma piada, essa vantagem é entregue de graça ao inimigo. Além disso, o aeroporto falso tinha armas antiaéreas reais. A bomba poderia cair longe ou se despedaçar, estrangando a piada. E um avião solitário, carregando bombas reais ou falsas, é um enorme risco.
Mas os historiadores Pierre Antoine Courable e Jean Dewaerheid educadamente discordam. Após ampla pesquisa, seu livro A Charada das Bombas de Madeira, de 2009, trouxe, entre outros, o testemunho do soldado alemão Wernher Tiel, que afirma ter servido numa base falsa em Borkheide, Alemanha, ao fim da guera. Ele afirmou que teria sido atacada não com uma, mas dezenas de bombas de madeira.
O livro também traz toda uma discussão do valor de uma bravata desse tipo, e da tolerância do oficialato a atos irracionais que levantavam o moral. Lembrando, entre outras coisas, outra história bem comprovada, quando na Guerra do Vietnã uma privada foi jogada de um jato em comemoração.
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