Na mitologia Guarani, ele era considerado o criador do mundo. Após gerar outros deuses, o grande criador fez surgir o dom da palavra
Izabel Duva Rapoport Publicado em 16/08/2019, às 16h38
No início de tudo era o caos. Não havia nada de sólido no planeta. As sementes de todos os seres giravam embaralhadas sem rumo, sem centro, sem direita ou esquerda.
E no meio dessa tormenta, algo sem explicação aconteceu: uma respiração. Um simples suspiro surgiu, cresceu e se multiplicou tomando forma até se transformar em um pensamento.
Era, ainda, uma alma sem corpo. E bem lentamente, com toda a paciência de uma árvore, o novo ser foi criando a si mesmo. Os pés e os braços foram ganhando forma e firmeza como galhos, assim como a cabeça, que se ergueu no meio do nevoeiro.
Os olhos se abriram e viram que era preciso dar ordem naquela bagunça ao redor. Esta é apenas uma das versões para os mitos que os guarani contam nos territórios que hoje formam o Brasil e o Paraguai.
Segundo o folclorista Barbosa Lessa, em seu livro Rodeio dos Ventos: Uma Síntese Fantástica da Formação do Rio Grande, este deus recém nascido recebe o nome de Nhanderuvuçu. E era valente.
As trevas eram assustadoras, mas seu coração, enquanto batia, soltava raios, espantando as sombras e acalmando a ventania. E tudo foi ficando silencioso e monótono... até chegar a uma calmaria que entediou a nova divindade.
O criador do mundo, então, tratou de criar um meio-termo entre o repouso e o conflito. Separou o caos da ordem e, de tempos em tempos, tempestades escapavam. Às vezes, devastando tudo, outras vezes, criando mudança: um mundo que, até hoje, oscila entre a criatividade e a destruição.
Só que Nhanderuvuçu se viu sozinho e resolveu criar outros deuses, como Yara (senhora das águas), Tupã (guardião do relâmpago) e Curupira (espírito das matas), que fizeram crescer árvores, ervas e bichos por todo lado. Depois, criou Kayuá, o dom da palavra – o início da narrativa que dá sentido ao mundo.
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