Neste dia, em 1933, acontecia o desastre no parlamento alemão, que deu a deixa para Hitler conquistar o poder absoluto
Redação Publicado em 27/02/2020, às 08h00 - Atualizado às 08h00
Em 27 de fevereiro de 1933, a sede do Parlamento alemão foi incendiada. O prédio de quase 50 anos foi completamente destruído pelas chamas.
Hitler havia ascendido ao cargo de chanceler menos de um mês antes. O governo, cada dia mais dominado pelo Partido Nazista, alegou que o incêndio estava ligado a uma conspiração comunista para derrubar o Estado.
Após torturas impostas pela Gestapo, um jovem holandês, Marinus van der Lubbe, um comunista, confessou ser o autor do crime. Disse ter agido sozinho, em protesto à ascenção dos nazistas ao poder, negando a participação de qualquer outro comunista.
Apesar de Hitler ser chanceler desde 30 de janeiro, os nazistas ainda não haviam se consolidado no poder. Em 4 de fevereiro, sob a justificativa de combater a subversão comunista, o gabinete de Hitler expediu um decreto que limitava a liberdade de imprensa e autorizava a polícia a banir encontros e marchas políticas. A suspensão desses direitos civis pareceu justificada pelo incêndio do Palácio do Reichstag.
A mando de Hitler, a imprensa promoveu mensagens contra os comunistas e disseminou provas forjadas da conspiração. O presidente Paul Von Hindenburg declarou estado de emergência e autorizou o decreto que permitiu limitar a liberdade de imprensa, banir todas as atividades políticas e proibir qualquer manifestação antinazismo.
Milhares de comunistas, sociais-democratas e liberais foram presos e torturados. Ao fim de 1933, a Alemanha, que havia começado o ano como uma vibrante, se instável democracia, era uma ditadura.
Além de Marinus, a polícia alemã acusou outros quatro comunistas de cumplicidade no ato de incendiar o Reichstag. Van der Lubbe foi sentenciado e executado por guilhotina, em 10 de janeiro de 1934. Os demais acusados foram absolvidos.
Tanta conveniência obviamente levantou suspeitas. E os nazistas ajudaram a fomentá-las, ao realizar várias investigações que provaram que o holandês não poderia ter agido sozinho. O que fez com que os comunistas levantassem a tese oposta, de que van der Lubbe era só um testa de ferro e os nazistas causaram o incêndio e o deixaram lá para levar a culpa.
Para se ter uma ideia da polêmica, em 1967, uma corte de Berlim reverteu a sentença capital nazista, por traição, mas ainda considerou o holandês responsável pelo incêndio, "condenando-o" a 8 anos de cadeia. Em 1980, essa sentença foi abolida, num gesto que foi anulado pela Suprema Corte. Só em 2008 ele foi oficialmente perdoado, e hoje há um memorial em seu nome — como alguém que cometeu um ato de resistência ao nazismo. Em outras palavras, um "herói" culpado pelo incêndio.
Essa opinião majoritária e mais ou menos oficial na Alemanha, de que van der Lubbe era mesmo um maluco solitário, foi estabelecida em tempos democráticos pelo historiador Fritz Tobias, que, nos anos 1960, era diretor do Escritório de Proteção Constitucional da Alemanha Ocidental e, numa série de artigos para a Der Spiegel, falou de um passado de piromania no acusado.
Entre debates e embates, a última grande cartada foi a de 2014, quando o historiador americano Benjamin Carter Hett, usando de ampla documentação, demonstrou em seu livro 'Burning the Reichstag' como Tobias não só era um simpatizante nazista, como ameaçou aqueles que defenderam a tese oposta.
Seguindo a ideia dos próprios nazistas que o incêndio era impossível para um homem solitário, Hett, demonstra que as SAs nazistas já tinham um setor especializado em incêndios. E assumiu ser muito provável que eles estavam por trás de tudo, e o holandês fora drogado em seu julgamento para confessar.
Se os nazistas ganharam mesmo na loteria com um maluco conveniente, uma tese ninguém defende: que realmente fossem os comunistas tentando uma revolução. A ideia da ameaça que levou ao poder absoluto de Hitler é, de um jeito ou outro, falsa.
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