Como ilhas na terra, esses territórios tem fronteira por todos os lados e, alguns são do tamanho de cidades do Brasil
Juliana Parente Publicado em 04/04/2020, às 09h00
Você conhece Penha e Maracajá? Provavelmente não. Penha e Maracajá são duas pequenas cidades, de 60 km² cada uma, em Santa Catarina. Embora estejam quase perdidas no mapa do Brasil, elas têm o mesmo tamanho de um país inteiro, San Marino, na região central da Itália.
San Marino é um país-enclave, ou seja, um território encravado no meio de outro. “No mapa, os países-enclaves aparecem como uma espécie de ilha. Só que, em vez de cercados de água, eles são delimitados por terras de um outro país”, diz Luiz Guinter, especialista no estudo de micropaíses e autor do livro Em Busca de Liliput – Uma Visão Geral e Curiosa dos Menores Países do Mundo.
Lesoto é outro exemplo de país-enclave. Os habitantes do país, que tem língua e moeda próprias (o sesoto e o loti, respectivamente), e 30,35 km² de área, são obrigados a atravessar a África do Sul, não importa de que direção venham — norte, sul, leste ou oeste.
No quesito invisibilidade cartográfica, porém, nada supera o Vaticano. Esse outro enclave italiano tem o tamanho de um quarteirão, 0,44 km² ocupados pelo papa e cerca de 900 representantes da Igreja Católica Apostólica Romana.
Segundo André Martin, professor de Geopolítica da Universidade de São Paulo, o termo enclave foi originalmente criado para identificar economias articuladas às redes mundiais e praticamente alheias à sua vizinhança. “É o caso de Cingapura, um dos líderes mundiais em indústria de alta tecnologia, que foi viabilizada para atender as necessidades dos países desenvolvidos”, diz.
Se os países-enclaves não são tão numerosos, o mesmo não ocorre com os territórios-enclaves — porções de terra de um país independente encontradas dentro de outro, também autônomo.
“Existe uma parte belga dentro da Holanda, porções da Espanha encravadas na França e no Marrocos, extensões da Inglaterra na Espanha. Minha lista é longa e duvido que esteja completa. Muitas dessas regiões nem aparecem na maioria dos mapas”, diz Luiz Ginter. Kleineswalsertal, por exemplo, pertence à Áustria, mas fica na Alemanha.
Já Campione d’Itália é um teco italiano localizado na Suíça, enquanto Bearle-Hertog faz parte da Bélgica e encontra-se na Holanda. Outro exemplo é Gibraltar — que, embora não seja exatamente enclave, já que tem saída para o mar Mediterrâneo, é território da Grã-Bretanha localizado na Espanha.
Não é só a Igreja Católica Apostólica Romana que tem seu próprio país. Os cristãos ortodoxos também contam com um Estado, Monte Atos, no norte da Grécia. “Nos 400 km² dessa república teocrática, nenhuma mulher ou animal fêmea pode pisar”, afirma Luiz Ginter.
Já a região de Sacramento, onde hoje está a cidade uruguaia de Colônia, tornou-se um enclave espanhol na América portuguesa no século 17, entre 1680 e 1681 — ano em que foi devolvida aos portugueses graças à assinatura do Tratado de Lisboa. E a base militar de Guantánamo, onde são mantidos supostos terroristas, também é citada como exemplo de território-enclave. Desde 1903, os Estados Unidos arrendam parte do território cubano.
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