Alegando ouvir vozes e enxergar santos da Igreja Católica, a jovem foi à guerra e pagou com a vida — um estudo de 2016 pode ter desvendado a verdade por trás de toda a santidade de Joana
Alana Sousa Publicado em 06/01/2021, às 09h00
Guerreira, herege, bruxa e, finalmente, uma santa. Joana D’arc foi considerada muitas coisas ao longo de sua emblemática e notória vida. A jovem francesa de 19 anos que se juntou ao exército do rei Carlos VII com o objetivo de expulsar os ingleses da França, dizia ter ouvido um chamado divino — que a guiou pelo campo de batalha até a morte na fogueira.
Desde muito nova Joana alegava ouvir vozes vindas da Igreja, essas que lhe infligiam medo e eram acompanhadas por uma forte luz. Religiosa, a menina, que deveria ter por volta de 13 anos na época, afirmava que as frases muitas vezes eram indecifráveis, mas ela acreditava serem de São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia.
Entre direcionamentos confusos, um deles era claro e específico: ir para outra cidade e juntar-se a batalha contra os ingleses. Porém, para tal, precisaria convencer o rei de sua capacidade; assim o fez.
“Senhor, vim conduzir os seus exércitos à vitória”, teria dito Joana ao chegar à corte. Após alguns testes, Carlos VII concordou que a moça poderia lhe ser útil. Deu a ela uma espada e um estandarte, assim como a autorização de se juntar às tropas.
Nessa época sua reputação já estava consolidada, e todos se viam fascinados pela jovem com trajes masculinos que fora enviada por Deus para salvar a França. Relatos dos franceses apontam que a menina jamais lutou, mas aconselhava os homens nas batalhas e em encontros de generais de guerra. Ainda assim, sua presença é descrita como fundamental para a vitória de sua nação.
No entanto, intrigas políticas levaram a captura da donzela de aço, que dali em diante enfrentou momentos de horror na prisão e uma acusação de heresia e bruxaria. Foi questionada por sua suposta habilidade de ouvir vozes, sua crença religiosa e seus trajes peculiares.
Jamais sucumbiu. Com vestes brancas, foi sentenciada a morte na fogueira e executada em 30 de maio de 1431. Para evitar que suas cinzas se tornassem algo sagrado, elas foram jogadas no rio Sena. Todavia, sua saga perpetuou e, séculos mais tarde, foi reconhecida como uma santa.
As vozes misteriosas
Apenas algumas décadas depois, Joana foi considerada inocente pelo Papa Calisto III, mas foi após quase 500 anos que seu nome foi eternizado para a Igreja Católica. Levando em consideração que as vozes e visões eram de fato autênticas, ela foi canonizada em 1920, pelo Papa Bento XV.
Diferente das alegações de milagres e de uma santidade indiscutível, um estudo de 2016, publicado na revista Epilepsy & Behavior, realizado por dois neurologistas italianos, Guiseppe d’Orsi, da Universidade de Foggia, na Itália, e Paola Tinuper, da Universidade de Bolonha, aponta para uma explicação mais mundana: Joana sofreria de epilepsia parcial idiopática com características auditivas (IPEAF).
A doença estaria por trás das sagradas vozes, pois, faz com que os pacientes ouçam barulhos por conta de falhas nos sinais elétricos do cérebro. Além disso, a condição ainda poderia ser genética.
De acordo com os especialistas, a santa francesa era bastante afetada na parte responsável pela audição, e que suas convulsões crônicas faziam com que ela tivesse alucinações. Por conta de sua religião, ela pensou se tratar de sinais e mensagens divinas.
Por dez anos d’Orsi e Tinuper trabalharam na tese, analisando documentos sobre o julgamento da combatente na Guerra dos Cem Anos. Uma das partes cruciais dos relatos foi a descrição de Joana sobre como as vozes vinham até ela.
Segundo a moça, o “som dos sinos” era acompanhado, muitas vezes, dos contatos sobrenaturais. O que para os estudiosos é explicado pelo fato de que determinados sons podem desencadear convulsões, desde as mais fracas até as mais impactantes.
Outro fator que a aponta para o diagnóstico de epilepsia é este trecho de D’arc: “Estava a dormir e a voz acordou-me. Acordou-me sem me tocar”. Os neurocirurgiões explicam no artigo que 40% das pessoas nesta situação podem sofrer com convulsões durante o tempo que estão dormindo.
“600 anos depois da morte de Joana, reafirmamos a impossibilidade de chegar a uma conclusão final”. Mesmo que a realidade tenha se misturado com a fantasia, pesquisadores se esforçam para entender detalhes da vida de um dos símbolos mais relevantes e misteriosos da História da França — e da humanidade.
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