Carrancas vampiras, sucesso nas feiras de artesanato - Reprodução
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King Kong japonês deu origem às Carrancas do São Francisco

Isto é, as carrancas no formato que todo mundo conhece. Elas existiam antes, mas ganharam uma cara nova por conta de um filme de monstro

Thiago Lincolins Publicado em 16/07/2019, às 00h00 - Atualizado às 06h00

Na virada do século 19 para o século 20, os embarcadores de Piraporinha em Minas Gerais, que faziam comércio com a cidade de Juazeiro na Bahia, encontraram uma maneira de diferenciar e chamar atenção para as suas embarcações. Na proa dos barcos foram colocadas figuras feitas de madeira, produzidas por artesãos chamados de carranqueiros. Possuíam características insólitas: os artistas misturavam traços de animais e humanos nos objetos.

As carrancas fazem parte de uma velha tradição, a das figuras de proa — as estátuas na frente (proa) dos grandes navios a vela. Existiam em navios vikings e foram adotadas por Portugal na era das Grandes Navegações. Carranca, aliás, não quer dizer cara feia — é sinônimo para figura de proa.

Carranca utilizada na proa de um barco / Crédito: Getty Images

Como os vikings, os ribeirinhos acreditavam que as carrancas davam sorte. Protegeriam navios de tempestades e pedras traiçoeiras. Elas seriam capazes de espantar jacarés e peixes perigosos, e também de afugentar espíritos e outros personagens que habitariam o Velho Chico.

Como aconteceu no mar, a introdução de embarcações a vapor e, depois, a gasolina, no rio causou a desvalorização dos antigos barcos. Vapores, diferentemente de veleiros, não têm um lugar certo onde colocá-las. Com isso, as figuras foram desaparecendo do ambiente fluvial. Mas não foi seu fim.

Cartaz japonês do filme A Fuga de King Kong, de 1967 / Crédito: Reprodução

Os artistas encontraram outra utilidade para os objetos: passaram a ser produzidos em bustos decorativos. Como protegiam os barcos, protegeriam as casas. Essas carrancas acabaram evoluindo para outra tradição, guiadas pelo gosto de outros clientes. E, assim, das figuras animais brancas, elas viraram os monstros castanhos de hoje. Pela ideia de um artesão: em 1971, após assistir ao filme japonês A Fuga de King Kong, de 1967, o mestre escultor Bitinho, de Petrolina, Pernambuco, teve a ideia de criar uma carranca nova inspirada no macaco- robô do filme.

A carranca macaca, bem mais assustadora que as tradicionais, foi um sucesso. Então o mestre continuou com sua inspiração no cinema. Misturando as cores preta, vermelha e branca e com olhos esbugalhados, presas enormes e uma boca gigante, nasceu a carranca vampira. Tornou-se um sucesso nas feiras de artesanato do Nordeste. Ao mesmo tempo levou ao esquecimento as versões antigas. Para quem acredita, as carrancas vampiras recebem as mesmas atribuições míticas do século 19. O busto é colocado na frente de casas para afastar possíveis energias negativas.

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