A técnica medieval “atestada” para vencer a criatura imaginária envolvia uma virgem de topless. E a razão era religiosa
Maria Carolina Cristianini Publicado em 05/11/2019, às 14h00
Se hoje ele parece ser um símbolo para coisas meigas e açucaradas, na Idade Média o unicórnio era uma fera. Um ser mágico, forte e perfeitamente capaz de matar com seu chifre. Que possuía poderes medicinais, capaz de tornar potável a água envenenada. Um tesouro para os alquimistas.
A mágica e a determinação do unicórnio tornariam impossível caçá-lo – nas perseguições mais violentas, ele chegava a se jogar de um penhasco e contava com a força do chifre, que recebia todo o impacto da queda, para sair ileso.
Felizmente, ele tinha uma fraqueza. O naturalista romano Plínio, o Velho (23-79) descreveu os unicórnios como animais com corpo parecido ao de um cavalo, cabeça que lembra a de um veado, pés de elefante e rabo de javali. Ele registrou que, à primeira visão da mulher, o unicórnio perdia todo o seu espírito de combate.
Instantaneamente, ou depois que a donzela deixasse seus seios à mostra, a criatura antes indomável se aproximava da virgem e se deitava ao lado dela. Em seguida, colocava a cabeça em seu colo e poderia tentar mamar, caindo em torpor até o sono, como um bebê. Esse era o momento de o caçador aparecer e capturar o alvo – então levado para um cativeiro ou morto por uma espada.
A necessidade da presença de uma virgem na captura do ser mágico aparece até em um dos cadernos de Leonardo da Vinci, autor do desenho da criatura imaginária Uma Donzela com um Unicórnio: “O unicórnio, com sua intemperança e por não saber controlar a si mesmo, esquece sua selvageria e ferocidade pelo amor que tem pelas donzelas justas; deixando todo o medo de lado, ele vai até a donzela e dorme no colo dela, então os caçadores o pegam”.
Em Bulfinch’s Mythology, (Mitologia de Bulfinch, compilação de três livros do autor, sem tradução), o escritor americano Thomas Bulfinch (1796-1867) interpreta todas as dificuldades para capturar um unicórnio como um tipo de desculpa da época do naturalista romano Plínio. Era preciso justificar a impossibilidade de apresentar a criatura tão mítica, que atrairia multidões para o Coliseu – onde havia até tigres asiáticos.
O desejo de ter contato com os poderes mágicos de um unicórnio era tamanho que, durante a Idade Média, muitos presenteavam reis com copos feitos de seu chifre – em verdade, fabricados com presas de narval, cetáceo com uma única presa gigante.
A donzela da captura foi interpretada como a Virgem Maria, retratada na iconografia popular com um unicórnio branco deitado em seu colo. O unicórnio, Jesus, um ser poderoso alcançado pela Virgem.
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