Uma das pinturas mais famosas do Japão, a obra de Katsushika Hokusai se tornou um grande ícone artístico
Éric Moreira Publicado em 30/04/2023, às 17h00
Quando se pensa em algumas das pinturas mais emblemáticas produzidas ao longo da História da Arte, muita gente direciona o olhar rapidamente para um dos maiores polos artísticos do mundo: a Europa. E isso não é à toa, visto que, de fato, foi lá que surgiram grandes artistas como Michelangelo, que pintou 'A Criação de Adão', Leonardo da Vinci, com a 'Mona Lisa' e Edvard Munch, pintor de 'O Grito'.
No entanto, essa visão eurocêntrica da arte é muito proveniente do processo colonizatório que grande parte do mundo — em especial as Américas — sofreu, que colocava os europeus em uma espécie de pedestal e modelo a ser seguido. Prova disso é o fato de que, fora do Velho Continente, outras obras também abalaram a Arte, ao ponto de até mesmo influenciar esses pintores 'modelos'.
Esse é o caso de uma das pinturas mais famosas provenientes do Japão, 'A Grande Onda de Kanagawa', feita por Katsushika Hokusai. Confira a seguir algumas curiosidades sobre a obra:
Embora muita gente pense que 'A Grande Onda de Kanagawa' seja uma pintura simples, que retrate apenas as turbulentas águas do arquipélago japonês, a obra se trata, na verdade, de uma vista diferente do Monte Fuji, a mais alta montanha do Japão. Produzida por volta de 1830, é apenas uma de uma série de 46 xilogravuras de Hokusai que, apesar do número, são chamadas de 'Trinta e seis Vistas do Monte Fuji'.
Primeiro, é importante compreender o contexto: na época, a grande montanha — que é, na realidade, um vulcão ativo, mas com baixo risco de erupção — era vista pelos japoneses como uma espécie de divindade, que causava medo pelo risco de expelir lava, ao mesmo tempo que a neve em seu topo também era fonte de água. De acordo com a BBC, alguns até mesmo pensavam que o Monte Fuji guardava o segredo da imortalidade.
De fato, é possível observar a montanha na pintura. Ao fundo, bem ao fundo, de maneira bem discreta. A obra nada mais é que um entre muitos possíveis olhares sobre aquele impressionante monte. Apesar da grande gama da 'Grande Onda' no Ocidente, na época em que as xilogravuras foram produzidas, a que mais se popularizou foi 'Fuji Vermelho'.
Um fato sobre o conjunto de obras de Hokusai que nem todos imaginam, é que o artista japonês já tinha pelo menos 70 anos de idade quando as produziu. E conforme ele mesmo escreveu em um livro de memórias, quando tinha 76 anos, estava convencido de que seu melhor trabalho ainda não tinha surgido.
"Desde os 6 (anos), eu tive uma queda por copiar a forma das coisas. A partir dos 50, as minhas imagens foram publicadas...", escreveu, referindo-se a outras obras que produzira que já vinham sendo publicadas — em suma, figuras de animais, plantas e paisagens. "Mas até os 70 anos, nada do que desenhei era digno de menção."
Aos 73 anos, fui capaz de desvendar o crescimento de plantas e árvores, e a estrutura de aves, animais, insetos e peixes. Portanto, quando eu completar 80 anos, espero ter progredido cada vez mais, e nos 90, me aprofundar no princípio subjacente das coisas, de modo que aos 100 anos eu tenha alcançado um estado divino em minha arte. Assim, aos 110, cada ponto e cada linha serão como se estivessem vivos", definiu ainda como metas, no livro.
Como já mencionado, a obra de Hokusai não só é admirada atualmente por pessoas de diversos lugares do mundo, como até mesmo na época em que foi descoberta — não na época em que foi produzida, afinal, o Japão ainda era praticamente isolado do restante do mundo.
Um elemento da 'Grande Onda de Kanagawa' que chama a atenção logo de imediato é o tom de azul empregado nas águas retratadas. Aquele é o azul da Prússia, um pigmento que não existia naquela região, mas era importado. E esse mesmo tom de azul, assim como as formas empregadas na obra, podem ser notadas, por exemplo, em 'A Noite Estrelada', de Vincent van Gogh.
Hoje em dia é super comum encontrarmos pinturas de artistas famosos à venda por preços exorbitantes, muitas vezes beirando a casa dos milhões, dependendo da obra. Porém, embora 'A Grande Onde de Kanagawa' seja, de fato, uma obra apreciadíssima há séculos, sabe-se que o preço de venda de cada impressão de Hokusai foi avaliado em 16 mons — o equivalente a somente dois pacotes de macarrão.
Isso porque o pintor japonês considerava que uma arte barata, mas impressa em abundância e padrões técnicos refinados, teria a chance de se tornar lucrativa. Afinal, muitos usaram a obra como item decorativo.
Sabe-se que o Japão se encontra em uma região do planeta muito assolada por terremotos e tsunamis. E por isso, também associado ao fato de muita gente pensar que 'A Grande Onda' se trata de uma representação com enfoque nas águas do mar, muito já se teorizou sobre a possibilidade de a pintura mostrar um tsunami.
Porém, "podemos ter certeza de que não é um tsunami", segundo o especialista em hidrodinâmica do Imperial College London, Chris Swan, à BBC. "Tsunamis são ondas geradas por eventos sísmicos, muitas vezes em águas profundas. Quando isso acontece, a onda tem uma crista muito longa, o que não é o caso da imagem."
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