Os soldados da SS foram responsáveis por um grande desenvolvimento tecnológico mundial, mas isso ocorreu em detrimento de diversas populações vistas como inferiores
André Nogueira Publicado em 17/05/2020, às 08h00
O Terceiro Reich possui um legado contraditório: se por um lado havia um projeto de exclusão e submissão em que a ciência era usada em nome do extermínio, do outro a Alemanha de Hitler foi responsável por uma das maiores revoluções técnicas do mundo, melhorando substancialmente os conhecimentos científicos modernos. Esse legado ambíguo se deve ao fato de que o investimento em pesquisas de ponta era gigante no Império Nazista, mas guiado para a guerra e a morte.
Muitas invenções hoje conhecidas, como o foguete, conhecimentos anatômicos, mísseis teleguiados e até a energia nuclear, seriam impossíveis sem a produção acadêmica nazista. Mesmo invenções posteriores a 1945 tiveram influência direta da ciência alemã dos anos 1930 ou mesmo de personagens do mundo científico do Reich, que não foram condenados por seus atos criminosos.
Conheça mais sobre a ciência no Terceiro Reich através de cinco fatos perturbadores sobre a Alemanha de Hitler.
1. “Contra a ciência judia”
A visão científica na Alemanha Nazista era intrinsecamente ligada à ideologia racial, que declarava uma hierarquia supostamente natural entre os grupos étnicos cuja superioridade seria da raça ariana e os judeus fariam parte dos sub-humanos do pior tipo. Essa noção falaciosa de mundo impregnou a difusão científica e muitos cientistas judeus, responsáveis por pesquisas inovadoras, foram perseguidos.
Hitler declarava aquela ala da academia como a “ciência judia”, que seria mentirosa e antialemã, o que incentivou a eugenia. Uma das principais vítimas da querela racial na ciência foi Albert Einstein, que no início dos anos 1930 já era conhecido por seus trabalhos em física teórica. A cabeça do cientista chegou a receber um preço e ele era difamado cotidianamente, o levando ao exílio nos EUA em 1933.
2. Experiência humanas
Os campos de concentração para judeus foram palco de uma atroz prática médica: o uso de pessoas, principalmente crianças, como cobaias para o melhor entendimento do corpo humano (e até reforço das teorias raciais a partir da anatomia). O mais famoso dos médicos pesquisadores desse tipo de ciência foi Josef Mengele, que comandava o laboratório de Auschwitz e realizava os mais diversos atos contra pacientes, vistos como meros objetos.
Mengele injetava tinta nos olhos de crianças para testar mudanças na coloração, amputava membros para checar cicatrizações, fazia transfusões de sangue experimentais, matava jovens com clorofórmio no coração para realizar autópsias reveladoras, costurava pessoas para testar siameses artificiais e tirava o alimento de bebês para checar o tempo que ele levava para morrer. O principal alvo do médico eram os gêmeos, que passavam pelos mais diversos testes.
3. Os mais avançados
O investimento em peso da Alemanha Nazista na produção científica e industrial fez com que o país, que se reerguia de uma crise econômica, política e moral, em um dos maiores polos científicos do mundo. Com tecnologias de ponta guiadas para a guerra, o país que perdera a Primeira Guerra começou a Segunda em larga vantagem, com verdadeiras máquinas de matar, inigualáveis aos dos oponentes. Um dos mais famosos produtos da ciência alemã era os mísseis V2, um objeto balístico guiável e gigantesco, responsável por grandes destruições durante o conflito.
A tecnologia alemã era tão preciosa e avançada que, com o fim da guerra e a derrota nazista, os Aliados perceberam uma vantagem essencial: comandados pelos EUA, eles negociaram com os alemães fugas sigilosas e moradias subsidiadas na América do Norte para cientistas que, em troca, comandassem o desenvolvimento de foguetes daquela que seria a NASA. Werner von Braun, pai do V2, acabou por ser também o responsável pela chegada dos estadunidenses na Lua — e ele era um nazista convicto.
4. Escravidão
Boa parte do desenvolvimento técnico barateado dos alemães no nazismo se deu também pelo uso de mão de obra compulsória no trabalho de base da indústria de maquinário, equipamento e químicos. Com isso, tornava-se o investimento científico mais rentável e, portanto, mais amplo. Os nazistas, inclusive, acabaram por realizar essa escravização fora de suas fronteiras, tomando núcleos como Ucrânia e Polônia, o que favoreceu uma denúncia internacional contra a prática.
Claro, essa prática não era exclusiva da Alemanha: países como Japão, China, EUA, Coreia, URSS e colônias africanas também tinham o regime de trabalho como característica. A perseguição racial dos nazistas colaborou com uma expansão desse lastro laboral compulsório, e muita produção a nível industrial foi impulsionada pelos campos de trabalho forçado, principalmente no Leste Europeu.
5. Submissão ao totalitarismo
A compreensão de Hitler como mandatário supremo de toda a sociedade alemã fazia com o que o Führer considerasse suas decisões sobre o rumo da Alemanha como supremas, o que incluía sua interferência no campo científico. Ele se achava apto para influenciar diretamente as pesquisas em armamento, munição, biologia, engenharia, entre outros, sem necessariamente consultar especialistas. Afinal, dizer “não” a um ditador não é validado.
Porém, como afirma o professor Robert Proctor (Universidade de Stanford), a interferência política na ciência não foi um impedimento para seu florescer, mas seu direcionador: "Os nazistas tinham objetivos malignos, mas não eram idiotas. Alguns desses objetivos, como a política racial, foram a fonte de grande parte da ciência de ponta”. Para ele, só é possível compreender o desenvolvimento alemão a partir do incentivo criado pelo Estado em favor do projeto eugenista, mesmo com a submissão dela à ideologia do governo.
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