Adolf Hitler em um comício do Partido Nazista - Wikimedia Commons
Curiosidades

Do nazismo ser de esquerda a religião de Hitler: 5 mitos comuns sobre a Segunda Guerra

As histórias populares sobre o conflito nem sempre batem com as versões verdadeiras apuradas por historiadores

Vanessa Centamori Publicado em 09/06/2020, às 14h43

1. Franceses foram enganados com a Linha Maginot

Um mito bastante comum sobre a Segunda Guerra é atribuído a algo que surgiu antes mesmo do conflito começar. Trata-se da construção da mais poderosa fortificação da história: um complexo militar francês interligado, chamado de Linha Maginot.

 A estrutura começou a ganhar vida no Período Entreguerras, especificamente em 1929, após um grande lobby do ministro da guerra francês, André Louis René Maginot — nota-se que do sobrenome do político veio a nomenclatura da construção.

O propósito do ministro era conter os alemães, que não eram vistos com bons olhos após a Primeira Guerra Mundial. A linha implantada, no entanto, falhou tragicamente. Daí surgiu uma história popular falsa, onde é afirmado que alemães simplesmente contornaram a linha, fazendo os franceses de bobos. 

Forte da Linha Maginot / Crédito: Wikimedia Commons

 

Na verdade, não havia o que contornar: a Linha Maginot não estava completa quando os soldados alemães entraram na região dela pela Bélgica. Naquele momento, a França ainda construía o sistema, a começar, obviamente, pela a fronteira com a Alemanha. A seção com a Bélgica ainda estava incompleta. 

Os belgas eram neutros e era óbvio que por lá os alemães viriam. Desse modo, os franceses consideraram que tiveram sucesso em sua empreitada, já que, na mente da França, o ataque alemão foi previsível. 

O problema foi que a Alemanha não atacou em campo aberto na Bélgica, mas atravessou de modo inesperado a floresta de Ardenas, ao Sul. Com essa surpresa, por pouco que a França não sucumbiu na batalha: por sorte, 338 mil soldados conseguiram se retirar. Foi em um acontecimento conhecido hoje como o Milagre de Dunquerque.

2. O primeiro-ministro do Reino Unido era covarde

Antes da Segunda Guerra começar, o até então primeiro-ministro do Reino Unido, Neville Chamberlain, entregou territórios à Alemanha e garantiu que seu país não ficaria no caminho dos alemães na tomada da região dos Sudetos.

Quando o conflito começou, a reputação de Chamberlain foi machada: desde então, ele tem sido visto como um covarde. Porém, na verdade, o primeiro-ministro estava encurralado e sem outra escolha naquela ocasião. O Reino Unido sofria após a depressão dos anos 1930 e a população não pensava em se alistar. 

Neville Chamberlain, primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial / Crédito: Wikimedia Commons 

 

Além disso, a invasão dos Sudetos já tinha vitória garantida para a Alemanha.  Chamberlain, que adotou uma postura de apaziguamento contra os alemães, teve que bancar o líder despreparado para a guerra. Isso custou sua popularidade. 

Por outro lado, o primeiro-ministro bem que tentou, ao ordenar o rearmamento sobretudo da Royal Air Force, que poderia atuar contra a Alemanha. Não deu certo. A política de Chamberlain com Hitler acabou com a invasão da Polônia, em 1939. O estadista perdeu para Winston Churchill na Câmara dos Comuns no ano seguinte, em 1940. 

3. Hitler era cristão 

Na verdade, não. Por mais que o Führer tenha se mostrado católico em público, ele era na realidade um demagogo, ou seja, agia meramente para cativar e manipular a população. Em um discurso feito em Munique, na Alemanha, Hilter tentou até passar uma imagem de fé — mas hoje sabemos que foi de boca pra fora. 

"Meus sentimentos, como Cristão, mostram meu Deus e Salvador como um guerreiro. Como Cristão, tenho o dever de ser um guerreiro pela justiça e verdade", disse o líder político, teatralmente. 

Adolf Hitler discursando em 1934 / Crédito: Getty Images 

 

Enquanto isso, em sua vida privada, ele fazia declarações anticristãs e bastante intolerantes. O Führer afirmava que o cristianismo era “uma rebelião contra a lei natural”. Dizia até que queria substituir a religião cristã, tratando-a como "doença", da qual deveria "imunizar" os alemães.

Não por acaso, testemunhas de Jeová foram perseguidas e levadas até campos de concentração, como Ravensbrück, Wewelburg e Brandenburg. Mais de 6 mil pessoas dessa religião foram presas e quase 2 mil morreram, somente em uma década. 

4. O nazismo é de esquerda

Isso é apenas um mito, que foi inflamado pela direita americana. É preciso considerar antes de tudo que Hitler conquistou seu poder após incendiar o Palácio Reichstag, para acusar os comunistas. As autoridades de esquerda, por sua vez, eram enviadas para campos de extermínio. 

Portanto, chamar nazismo de esquerda é um equívoco sem base histórica. A raiz do movimento de Hitler são os movimentos reacionários nacionalistas, românticos. Nada disso tem a ver com as ideias de Marx, que previam a tomada dos meios de produção da burguesia. 

Adolf Hitler / Crédito: Wikimedia Commons 

 

De modo bem diferente, os nazistas toleravam a propriedade privada, mesmo que defendam a massiva intervenção do Estado na economia. Foram eles que fizeram as primeiras privatizações, enquanto louvavam a classe do industrial patriota, que aceitava o trabalho escravo e o extermínio em massa. 

5. O Japão se rendeu por causa de Hiroshima e Nagasaki 

Tal afirmação é simplista demais. É claro que os bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki contribuíram de alguma forma para lapidar o fim da Segunda Guerra. Até porque, no Japão, havia muito ceticismo de que os americanos seriam capazes de enviar uma arma nuclear. 

Tanto que os Estados Unidos orquestraram dois ataques, para garantir que o recado fosse entregue. A questão, porém, é que houve mais outro desastre, que também teve papel importante na rendição japonesa. Esse foi o bombardeamento incendiário de Tóquio, que ocorreu em abril de 1945. Nesse incidente houve mais mortes imediatas do que em Hiroshima. 

Momento em que a bomba Little Boy explodiu em Hiroshima / Crédito: Wikimedia Commons

 

No entanto, os três ataques ainda assim não foram suficientes para instaurar a rendição. Houve muita resistência em entregar os pontos — por mais que o imperador japonês, Hirohito, quisesse se render.

Um dia após o anúncio da derrota autodeclarada pelo imperador, houve uma tentativa de golpe de estado por parte dos membros do Ministério da Defesa e da Guarda Imperial. A ideia era matar os militares que estavam de acordo com a rendição. Porém, o golpe falhou e o Japão se rendeu, em consequência também do fervilhão político nacional.


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