Bactérias e a moral sexual antiga foram mortas pela penicilina
Daniel Cardoso Publicado em 02/01/2019, às 13h00
Os índios brasileiros tinham poucas opções na hora de enfrentar um inimigo mortal. Quando alguém da tribo apresentava alguma infecção, o grupo acendia uma fogueira debaixo da rede do paciente e canalizava o ar diretamente para ele. Assim, o suor escorria e os demais entendiam que a doença estava sendo expelida. Na Grécia e em Roma, técnicas mais confortáveis faziam parte da rotina médica. Os antigos depositavam em longos banhos, dietas e exercícios a esperança para a recuperação.
Os hospitais eram parecidos com os spas de hoje. No mesmo período, a cultura popular de outras regiões da Europa vislumbrava o uso de ervas e plantas medicinais. Os métodos eram envoltos em incerteza.
E as pessoas morriam. Muito. De tuberculose, sífilis, lepra, coqueluche, peste bubônica e por aí vai. Para todas estas doenças bacterianas, a solução sempre foi tocar um tango argentino. Uma em cada três crianças jamais via a idade adulta - em países desenvolvidos e em média. Entre as classes mais pobres, metade não chegava ao primeiro ano. Não há estatísticas aqui no Brasil, mas é de se imaginar que não fosse melhor.
A primeira mudança significativa aconteceu na segunda metade do século 19, quando o francês Louis Pasteur e o alemão Robert Koch descobriram a ligação da ação de micro-organismos e doenças. Com isso, ficou claro que a porcalhice era um veneno.
Isso daria origem às noções modernas de higiene. E, com ela, bairros ricos batizados e Higienópolis pelo Brasil afora e a rígida moral sexual do período vitoriano até os anos 1950.
Pois é, as pessoas achavam que sexo era sujo porque era. Doenças venéreas eram uma realidade dura e inescapável. A sífilis, hoje quase esquecida, causa dano cerebral grave e deformidades no rosto antes de matar. Tirou do mundo algumas figuras como o poeta Charles Baudelaire e (possivelmente) o filósofo Friedrich Nietzsche. Gonorreia era tratada com dos métodos mais infames da memória histórica: raspar a parte de dentro da uretra com um cateter de metal e aplicar mercúrio no canal.
Os cientistas foram à luta. Entre o fim do século 19 e o início do século 20, desenvolveram a primeira tentativa de antibiótico: a Piocianase. A droga foi utilizada contra casos de difteria, mas logo teve de ser abandonada, depois de os resultados obtidos se mostrarem conflitantes. Nessa época, os registros do governo dos Estados Unidos alertavam que 1% de todas as mortes eram decorrentes de alguma infecção. Os americanos, a partir daí, deram início a uma verdadeira revolução.
Como ainda era impossível combater as bactérias que já estavam instaladas no corpo, o jeito era evitar o contágio. Os alimentos passaram a ser inspecionados, a água tratada chegou a mais casas e a educação tornou rotineiros cuidados como lavar bem as mãos.
Em 1940, as infecções passaram a representar 0,2% dos óbitos no país, contra o 1% no início do século. O primeiro medicamento eficiente foi a Penicilina, descoberta por acaso, em 1928, pelo escocês Alexander Fleming. De lá pra cá, muitas drogas foram inventadas e proclamou-se a salvação contra as infecções. Mas o uso indiscriminado dos antibióticos fez surgirem as superbactérias, resistentes até às drogas mais modernas.
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