Os iniciados da sociedade criminosa chilena deveriam passar por um monstruoso ritual de passagem
M.R. Terci Publicado em 31/08/2019, às 20h00
As celebrações que marcam mudanças de status no seio de uma comunidade são chamadas ritos de passagem. Na sociedade moderna estão ligados aos nascimentos, mortes, casamentos e formaturas e desempenham um papel extremamente importante na formação social e cultural de uma pessoa.
Mas algumas dessas cerimônias são assustadoramente perigosas, como é o caso das luvas de formigas tucandeiras da tribo amazônica Sateré-mawé. Os cultores do guaraná, obrigam os jovens a colocarem suas mãos dentro da toca das formigas, cujas ferroadas, terríveis e dolorosas, são comparadas a tiros de arma de fogo.
Outros rituais de passagem, no entanto, são ainda mais monstruosos.
Os iniciados da Brujeria, uma sociedade de criminosos e assassinos chilenos que submeteu, durante quase um século, a ilha de Chiloé a um reinado de terror, acreditavam ter o poder de voar, transmutar-se em animais, ler mentes, provocar mudanças nas marés e causar ferimentos graves ou assassinar seus inimigos à distância.
Para obter o privilégio de ser aceito na Caverna existiam rigorosos testes de admissão. Vários testemunhos, coligidos durante os julgamentos de 1880 e 1881, corroboraram o mesmo método para admissão à sua hoste abominável:
1. O aspirante passaria 40 noites com a cabeça embaixo de uma pequena cachoeira para lavar seu batismo cristão;
2. A cabeça e o corpo do iniciado deveriam ser lavados com o sangue de um recém-nascido, para alcançar uma grande acuidade mental e sensitiva, com a qual ele poderia ler os pensamentos das pessoas;
3. Cumpridas essas tarefas, ele era levado para a Caverna, para que o Rey lhe ordenasse matar um parente em uma noite de terça-feira. Após isso, nu, ele deveria dar três voltas completas em redor da ilha entoando um chamado para o Diabo;
4. Retornando à Caverna, o Rey lhe entregaria o colete feito da pele da vítima assassinada pelo próprio iniciado;
5. Deveria, então, fazer o juramento diante do Diabo e, cumprida essa exigência, um grande banquete antropofágico era servido;
6. O aprendiz de feiticeiro manteria, a partir dessa noite, um lagarto amarrado à sua testa com um lenço vermelho, para assim adquirir sua sabedoria e testemunhar outros segredos inomináveis.
M.R. Terci é escritor e esteve na legião estrangeira, expoente no gênero fantasia sombria e horror, seus livros mesclam história e o grande cabedal do folclore nacional às tramas autênticas e repletas de criatividade
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