A primeira Enciclopédia que permitiu o conhecimento chegar ao povo encarou uma série de obstáculos e inspirou a criação de outras coleções com caráter de divulgação universal
Texto Érica Montenegro // Adaptado por Izabel Duva Rapoport Publicado em 02/11/2020, às 08h00
A ambiciosa ideia de organizar todo o conhecimento existente em uma coleção de livros é bem anterior à Encyclopédie (a mais famosa de todas), idealizada pelo filósofo e escritor francês Denis Diderot (1713-1784) em parceria com o físico e matemático Jean D’Alembert (1717-1783).
No século 5 a.C., o rei Assurbanípal, da Mesopotâmia, ordenou aos sábios
de sua corte que escrevessem um livro sobre tudo o que se conhecia até então, e o resultado foram várias tábuas de madeira gravadas em escrita cuneiforme.
Já o primeiro trabalho que reinvidica em seu título a característica da palavra de origem grega “enciclopédia” (cujo significado é “cadeia do conhecimento”) é a Encyclopedia Septem Tomis Distincta de Johann Heinrich Alsted, de 1630 – mais de 100 anos antes da versão francesa, que chegou às estantes entre 1751 e 1772.
Mas, se o formato não era então uma novidade, por que a Encyclopédie se tornou uma referência?
Simples: ela permitiu que, pela primeira vez, as ideias discutidas nos altos salões da intelectualidade chegassem ao público em geral – incluindo os conhecimentos liberais que vinham surgindo, tornando a coleção a principal reunião das teses iluministas até então.
Apontada como uma das mais importantes bases teóricas para a Independência Americana, em 1776, e para a Revolução Francesa, em 1789, o caráter de divulgação universal da obra francesa inspirou tantas outras enciclopédias – que, guardadas as devidas proporções, eram para os cidadãos daquele período algo bem parecido com o que a internet é para a humanidade hoje em dia.
Censurada
Em fevereiro de 1753, o rei Luís XV proibiu a comercialização dos dois primeiros volumes da Encyclopédie e nomeou um grupo de homens da Igreja para revisar os que ainda estavam para ser publicados.
A decisão foi diplomática: agradou à Igreja sem abortar o projeto. Por trás disso havia uma voz feminina. A amante preferida do rei, madame Pompadour, tinha paixão pelas
artes e pelas letras. “Sedutora e inteligente, era uma firme defensora das ideias progressistas na corte”, escreveu Philipp Blom, no livro Encyclopédie – El Triunfo de la Razón en Tiempos Irracionales.
Entre um encontro e outro, ela convenceu o soberano de que não era bom impedir um projeto intelectual que dava prestígio à França no estrangeiro. Pela extensão do trabalho (no fim, foram 27 volumes, 72 mil artigos e 16,5 mil páginas), fica claro que os censores não conferiram letra por letra.
Ou se deixaram enganar pelos malabarismos verbais executados pelos autores, que, nas entrelinhas, se manifestavam contra o absolutismo, modelo político daquele período. Isso durou até 1759, quando o sétimo volume foi definitivamente proibido pelo rei e pelo papa.
No entanto, a nova maneira de pensar e de se informar já estava consolidada. “A Encyclopédie tinha dentro de si o gérmen do século seguinte, da Revolução Industrial e da caída do regime aristocrático. Com milhares de empregos em jogo e centenas de libras postas na balança, os fatores econômicos ganharam a partida”, afirma Blom.
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