Há 100 anos, Manuel Bonfim contestava a tese -tão em voga na época - de que as ¿raças inferiores¿ fossem as causas do atraso dos países do continente
Sergio Amaral Silva Publicado em 01/10/2005, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36
Em 1905, era publicado A América Latina: Males de Origem, de Manuel Bonfim. Nele, o autor discordava de que o clima tropical, a miscigenação e as chamadas “raças inferiores” fossem as causas do atraso dos países do continente, como vários ensaístas da época insistiam em afirmar. Em um livro “duro para os preconceitos de seu tempo”, segundo o crítico Antonio Candido, Bonfim explicava o fenômeno por meio da noção de parasitismo, emprestada das ciências biológicas. Criticava o governo, as elites e a exploração das colônias pelas metrópoles – e dos trabalhadores (livres ou escravos) pelos patrões (ou senhores). Foi muito criticado por seus contemporâneos, como Sílvio Romero, que o atacou numa série de 25 artigos num semanário carioca em 1906.
Manuel Bonfim (1868-1932) nasceu em Sergipe e era médico. Trabalhou como educador e escreveu sobre zoologia, psicologia, pedagogia e história. Sua obra, ao enfatizar fatores socioculturais – e não étnicos ou climáticos – para explicar a sociedade, é considerada precursora de autores das décadas de 1930 e 40, como Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Hollanda e Caio Prado Jr.
Após sua morte, caiu num injusto esquecimento. Foi redescoberto apenas em 1984, quando um ensaio de Darcy Ribeiro o classificou como o mais original pensador da América Latina. Seu livro tornou-se referência fundamental para o estudo de nossa história e cultura e foi relançado em 1993, em edição já esgotada. Agora, em setembro, ganha uma nova edição, pela Topbooks. No entanto, nem a obra nem o autor, cuja biografia, O Rebelde Esquecido, saiu em 2000, ainda são conhecidos à altura de sua importância e pioneirismo.
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