Instituto Moreira Salles ainda recebe integralmente as fotografias das séries Ciganos e Exílios; exposição abre ao público neste sábado, 18
Em agosto de 1968, a Tchecoslováquia foi invadida por países que compunham Pacto de Varsóvia. A ação, que marcou o fim abrupto da 'Primavera de Praga', resultou na morte de 137 checoslovacos, além de 500 ficarem gravemente feridos durante a ocupação.
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Agora, 11 registros do período, feitos por Josef Koudelka, integrarão a exposição 'Koudelka: Ciganos, Praga 1968, Exílios', que estreará no Instituto Moreira Salles, no IMS Paulista (Av. Paulista, 2424), a partir do próximo sábado, 18 de maio.
A série espetacular de Koudelka, feita ao longo de sete dias dramáticos, é considerada por muitos um dos mais importantes trabalhos de fotojornalismo do século 20.
Representante da tradição humanista e poética que dominou a fotografia europeia na segunda metade do século passado, Josef Koudelka terá três de seus mais icônicos trabalhos exibidos pelo Instituto Moreira Salles.
Com abertura no próximo sábado, 18, às 11 horas, a exposição 'Koudelka: Ciganos, Praga 1968, Exílios' chega ao IMS Paulista. A estreia contará com um bate-papo do próprio Koudelka com a jornalista Dorrit Harazim.
Com curadoria do próprio artista, a mostra traz a integral das séries 'Ciganos' (com 111 fotografias) e 'Exílios' (74 obras). Ambas tiveram suas tiragens produzidas nas décadas de 1980 e 1990, com supervisão do fotógrafo, e pertencem à Coleção Josef Koudelka no Museu de Artes Decorativas de Praga, República Tcheca.
Também poderão ser vistas 11 fotografias da invasão da capital da então Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia, em 1968, evento que interrompeu abruptamente o período celebrado como Primavera de Praga.
A série 'Ciganos' foi a primeira em que o fotógrafo se dedicou a um único tema. As fotografias foram feitas entre 1962 e 1970, a maioria em acampamentos ciganos no leste da Eslováquia, mas também na Boêmia, na Morávia (região onde nasceu, na cidade de Boskovice, em 1938) e na Romênia.
No período, ele trabalhava como engenheiro aeronáutico e colaborava como fotógrafo para o Divadlo za branou (Teatro Além do Portão), registrando ensaios e espetáculos, quando se interessou pelos ciganos.
Em 'Exílios', a outra série completa da mostra, que começou a ser produzida a partir de 1970, remete ao ano em que Josef Koudelka saiu da Tchecoslováquia, motivado pelas condições políticas em seu país. Em suas viagens constantes por Espanha, França, Portugal, Itália, Irlanda e Grã-Bretanha, ele retratou o povo romani, as celebrações religiosas, as festas populares tradicionais e a vida cotidiana.
Por fim, está a série 'Praga 1968', com imagens da invasão soviética. Os registros aconteceram por impulso, visto que Koudelka nunca havia trabalhado antes como fotojornalista. Entretanto, se propôs a documentar o que se passava nas ruas de Praga tão logo soube, na manhã de 21 de agosto de 1968, da invasão da Tchecoslováquia por exércitos do Pacto de Varsóvia. As imagens feitas naquela ocasião se tornaram simbólicas de toda opressão militar e da luta por liberdade.
Josef Koudelka é fotógrafo tcheco, nascido em 1938 e naturalizado francês em 1987. Iniciou a carreira como engenheiro aeronáutico, tendo começado a fotografar ciganos em seu tempo vago, em 1962, antes de se dedicar integralmente à fotografia no fim dos anos 1960.
Em 1968, fotografou a invasão soviética de Praga, publicando suas fotografias sob as iniciais P.P. (do inglês Prague Photographer, Fotógrafo de Praga). Em 1969, recebeu anonimamente a Medalha de Ouro Robert Capa do Overseas Press Club, pelas fotografias. Koudelka deixou a Tchecoslováquia em busca de asilo político em 1970 e logo depois ingressou na Magnum Photos.
Em 1975, seu primeiro livro, Gypsies, foi publicado pela Aperture; os títulos subsequentes incluem Exiles (1988), Chaos (1999), Invasion 68: Prague (2008), Wall (2013) e, mais recentemente, Ruines (2020).
Koudelka ganhou prêmios importantes, como o Prix Nadar (1978), Grand Prix National de la Photographie (1989), Grand Prix Cartier-Bresson (1991) e o Prêmio Internacional de Fotografia da Fundação Hasselblad (1992).
Exposições de seu trabalho foram realizadas no Museu de Arte Moderna e no Centro Internacional de Fotografia de Nova York; Galeria Hayward, Londres; Museu Stedelijk de Arte Moderna, Amsterdã; Palais de Tokyo, Paris; Instituto de Arte de Chicago; e Museu de Artes Decorativas e Galeria Nacional, Praga. Em 2012, foi condecorado Comandante da Ordem das Artes e Letras pelo Ministério da Cultura da França. Atualmente vive em Paris e Praga.
Koudelka: Ciganos, Praga 1968, Exílios
Abertura: 18 de maio, às 10h. Até 15 de setembro
IMS Paulista | 8º e 7º andares
Entrada gratuita
Debate de abertura, com Josef Koudelka e Dorrit Harazim
18 de maio (sábado), às 11h
Cineteatro do IMS Paulista (145 lugares)
Entrada gratuita, com distribuição de senhas 60 minutos antes do evento. Limite de 1 senha por pessoa.