Milhares de páginas liberadas pelo Arquivo Nacional reacendem debate sobre o assassinato de John F. Kennedy, mas especialistas pedem calma
Após décadas de espera, o Arquivo Nacional e Administração de Registros dos EUA liberou, na noite da última terça-feira, 18, um vasto conjunto de documentos relacionados ao assassinato do presidente John F. Kennedy em 1963. A liberação, que inclui cerca de 63.000 páginas em mais de 2.100 arquivos, reacendeu o debate sobre o caso e gerou grande expectativa entre historiadores e pesquisadores.
Apesar do grande volume de material, especialistas alertam que a análise dos documentos exigirá tempo e paciência. Grande parte das informações já havia sido divulgada anteriormente, embora com edições para proteger informações confidenciais. A expectativa era de que a nova liberação trouxesse um grande número de documentos inéditos, mas até o momento, nenhuma revelação bombástica foi encontrada.
A liberação dos arquivos JFK, embora aguardada com grande expectativa, trouxe à tona uma realidade complexa. O volume de documentos é impressionante, com páginas detalhando investigações, depoimentos e análises da época.
No entanto, a maioria desse material já era conhecida, e divulgada em versões anteriores, muitas vezes com trechos editados para proteger informações confidenciais.
Segundo o 'USA Today', essa situação levanta questões sobre o que realmente há de novo nos arquivos e se eles trarão alguma revelação significativa.
A análise dos documentos é um desafio por si só. A qualidade das digitalizações varia, com algumas páginas borradas ou difíceis de ler, o que dificulta a pesquisa e a interpretação. Além disso, a falta de ferramentas de busca eficientes torna a tarefa ainda mais árdua.
A administração Trump e o Arquivo Nacional não editoram os arquivos de forma que permitisse a busca por palavras-chave usando OCR (Reconhecimento Óptico de Caracteres), o que seria fundamental para agilizar o trabalho dos pesquisadores.
Grande parte dos documentos se concentra na investigação de Lee Harvey Oswald, o assassino de Kennedy. Há um foco especial em seu tempo na União Soviética e em seus movimentos nos meses que antecederam o assassinato. Essa ênfase reflete a busca por entender as motivações de Oswald,se ele agiu sozinho ou com o apoio de outros.
No entanto, até o momento, nada nos documentos altera a conclusão da Comissão Warren, que investigou o assassinato na época, de que Oswald agiu sozinho.
Os documentos também oferecem um vislumbre do clima de tensão que prevalecia na época. A Guerra Fria estava em seu auge, e a Crise dos Mísseis de Cuba, ocorrida no ano anterior, havia levado o mundo à beira de uma guerra nuclear. Esse contexto de medo e incerteza pode ter influenciado as investigações e as teorias sobre o assassinato.
Os documentos oferecem um material valioso para pesquisadores e historiadores, que poderão aprofundar seus estudos sobre o caso e o contexto em que ele ocorreu. A expectativa é que, com o tempo e com o auxílio de ferramentas de busca mais eficientes, novas informações possam surgir e contribuir para um melhor entendimento desse episódio histórico.
Apesar da ausência de revelações imediatas, os documentos oferecem uma oportunidade para aprofundar o conhecimento sobre o assassinato de Kennedy e o contexto histórico em que ele ocorreu. A Mary Ferrell Foundation, especializada em tornar documentos históricos acessíveis, trabalha para criar versões pesquisáveis dos arquivos, o que facilitará a análise.
"Não consigo pesquisar esses novos arquivos JFK!", ouço vocês clamarem. Mas não temam, colegas pesquisadores, a Mary Ferrell Foundation está vindo em seu socorro", disse Jefferson Morley, autor do boletim informativo amplamente lido "JFK Facts", em uma postagem no X.
Especialistas como Fredrik Logevall, professor de história de Harvard, acreditam que os documentos podem ajudar a entender melhor as circunstâncias do assassinato, embora não esperem grandes mudanças na compreensão do evento.
"É valioso obter toda a documentação, idealmente em forma não editada. Mas não espero novas revelações dramáticas que alterem de alguma forma fundamental nossa compreensão do evento", disse Logevall em um e-mail.
A liberação de novos documentos ainda é possível, já que o Arquivo Nacional indica que mais material será divulgado à medida que for digitalizado.