'La Famiglia: The Great Mafia War' é um jogo de tabuleiro alemão premiado, mas que causou certo incômodo na Itália com seu tema controverso; confira!
Publicado em 23/01/2025, às 10h18
A Itália é conhecida por todo o mundo pela sua gastronomia bastante característica, pelo legado extremamente antigo e ainda vivo dos romanos e, também, pelas máfias. Tanto que esse último tema inspirou um jogo de tabuleiro alemão que, agora, vem causando grande polêmica no país.
Produzido pela empresa alemã Boardgame Atelier, o jogo 'La Famiglia: The Great Mafia War' se baseia nas famosas guerras da máfia que ocorreram na Sicília ao longo da década de 1980. Ele ganhou o prêmio As d'Or — um prestigioso prêmio de jogos de tabuleiro concedido em um festival anual da França — no ano passado, e só recentemente foi traduzido para o italiano, o que impulsionou a controvérsia recente.
Descrito como "um jogo de conflito ambientado em uma disputa mafiosa na Sicília", 'La Famiglia' tem a premissa de que os jogadores, que representam diferentes famílias mafiosas, devem competir entre si para assumir o controle de toda a Sicília, utilizando-se de meios brutais e reais, como carros-bomba, "para dominar o máximo de regiões possível".
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Conforme repercute o The Guardian, durante a década de 1980, as disputas da máfia no sul da Itália foram motivo de grande preocupação. Ao todo, mais de 1.000 pessoas morreram somente nos dois primeiros anos da década, muitos dos quais eram meros civis que estavam no lugar errado, e na hora errada, em vez de verdadeiros alvos dos mafiosos.
Foi nessa época, inclusive, que o chefe da Cosa Nostra, Totò Riina, ganhou grande destaque, ao ordenar os assassinatos com carros-bomba do juiz Giovanni Falcone — cuja família criticou o jogo de tabuleiro — e de seu colega, também antimáfia, Paolo Borsellino, em 1992.
"Não entendo como é possível que alguém tenha pensado neste jogo, que brinca com os sentimentos daqueles que perderam suas vidas servindo ao Estado", criticou Maria Falcone, irmã de Giovanni, ao jornal Corriere della Sera. "A máfia só criou morte na Sicília e na Itália. Um jogo como este ofende a memória de todos aqueles que contribuíram para libertar esta terra [do crime organizado]".
"Este produto não só ofende a dignidade dos sicilianos, mas desvaloriza o compromisso diário de milhões de cidadãos que lutam pela legalidade e justiça em nossa região", escreveu o político Alessandro De Leo, do Forza Italia, em carta ao presidente da Sicília, Renato Schifani.
Porém, em resposta, o designer do jogo, Maximilian Maria Thiel, se posicionou: "Primeiramente, lamento muito se alguém se sentiu magoado ou ofendido por este jogo. Esta não era nossa intenção. Neste jogo, apenas mafiosos matam uns aos outros. Então não vejo problema - além do tema, que para alguns parece ser um gatilho".
Além disso, o jogo é deliberadamente mantido muito abstrato [blocos em vez de figuras] para que esses assassinatos não sejam tornados conscientes no jogo", pontua o designer alemão.
Por fim, Thiel também mencionou ter vivido na Itália na mesma época que ocorreu os assassinatos de Falcone e Borsellino, e acrescentou: "Muitas pessoas associam a Guerra da Máfia às mortes de Giovanni Falcone, Paolo Borsellino, que foram mortos 10 anos após o fim da rixa da máfia, ou outros. A máfia ainda está ativa e matando pessoas. Mas os assassinatos de todas essas pessoas não tiveram nada a ver com a guerra interna da máfia retratada no jogo".