A invenção da celebridade, de Antoine Lilti, apresenta os mecanismos utilizados para transformar pessoas comuns em figuras públicas
Victória Gearini Publicado em 28/10/2020, às 19h40 - Atualizado em 18/03/2022, às 13h57
Segundo a obra A invenção da celebridade, escrita pelo historiador Antoine Lilti, antes de existir o cinema, a imprensa sensacionalista, a televisão e a internet, a sociedade já tinha mecanismos para transformar pessoas comuns em figuras públicas, e tais métodos podem ser observados quando analisamos a Europa durante o século 18.
Lançada em 2018 pela editora Civilização Brasileira, o livro revela que, durante o período romântico, houve aperfeiçoamento de técnicas que elevaram a popularidade de pessoas comuns e as transformaram em personalidades conhecidas.
Dentre as figuras públicas citadas no livro, estão o filósofo Voltaire e o compositor Franz Liszt. Segundo a obra, ambos eram considerados "celebridades" na época, pois despertavam a curiosidade e a paixão de admiradores.
“O autor nos lembra que, mesmo quando rimos da cultura contemporânea das celebridades, precisamos considerá-la com seriedade, e não meramente como uma excrescência ou uma patologia, mas como um elemento constituinte da modernidade política e cultural”, disse a Books and Ideas.
Mais tarde, com a ascensão da imprensa e publicidade, Paris, Londres, Berlim e Nova York tornaram-se o epicentro de pessoas consideradas “celebridades”. A partir destes meios, os limites entre a vida privada e o espetáculo público foram rompidos.
"Com A invenção da celebridade, Antoine Lilti estabeleceu-se como um dos historiadores mais importantes e talentosos da França do século XVIII [...] É um estudo criativo e, ao mesmo tempo, audacioso e teoricamente fundamentado", revelou Colin Jones, do Queen Mary University of London.
Maria Antonieta, George Washington e Napoleão Bonaparte também são utilizados de exemplos para explicar o método, que afirma que não basta ter uma função pública de forma legítima, mas que é preciso ser popular também. Além disso, o escritor compara a vida pública de Maria Antonieta com a de Lady Di.
“O autor interpreta a celebridade como um tema histórico e trabalha com rigor e originalidade”, escreveu o The New York Review of Books.
Disponível na Amazon em formato Kindle e capa comum, a obra traduzida por Raquel Campos, trata-se de um livro que narra a evolução dos métodos utilizados por celebridadex para manter a glória e fama. No entanto, apresenta as implicâncias ao romper as fronteiras entre a vida pessoal e a pública.
Confira abaixo um trecho de A invenção da celebridade (2018):
“Maria Antonieta é Lady Di!” Quando esteve no set de filmagem de sua filha Sofia, que dedicou uma produção cinematográfica à rainha da França, Francis Ford Coppola ficou impressionado com o paralelo entre os dois destinos. A comparação é fortemente sugerida pela perspectiva anacrônica do filme: Sofia Coppola apresenta Maria Antonieta como uma jovem de hoje, dividida entre a sede de liberdade e as obrigações impostas por seu estatuto monárquico. A música do filme, que mistura composições barrocas, grupos de rock dos anos 1980 e trechos eletrônicos mais recentes, reforça essa leitura. Depois da jovens enigmáticas e melancólicas de As Virgens Suicidas e de Encontros e Desencontros, Maria Antonieta aparece com a nova encarnação da eterna adolescência. Depois, surge outro tema, que Sofia Coppola aborda abertamente em seus filmes posteriores: o modo de vida das celebridades. Como o cantor de Um lugar qualquer, recluso em seu hotel de luxo, onde morre de tédio, sem jamais pensar em abandoná-lo, Maria Antonieta é confrontada com as obrigações ligadas à sua condição de personalidade pública. Ela pode conseguir tudo o que quiser, menos aquilo que talvez realmente deseja: livrar-se das exigências da sociedade de corte, que aparece como uma prefiguração da sociedade do espetáculo”.
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