A Substância: Como o filme se conecta com a trajetória de Demi Moore?

Em setembro, os cinemas brasileiros receberam a estreia de "A Substância", uma produção francesa dirigida por Coralie Fargeat, que rapidamente se tornou um dos filmes mais discutidos deste ano.

O enredo gira em torno de Elisabeth (Demi Moore), uma atriz outrora célebre, que aos 50 anos é demitida do programa de ginástica que apresenta. Diante dessa crise, sua vida sofre uma reviravolta com a descoberta de uma substância misteriosa que promete transformar sua aparência, tornando-a mais jovem e bela. 

A temática do filme dialoga diretamente com as questões contemporâneas sobre procedimentos estéticos e padrões de beleza.

A narrativa assume um tom frenético à medida que avança, desafiando o espectador a refletir sobre os limites físicos e emocionais impostos pela sociedade, o que se conecta com a trajetória de Demi Moore, protagonista do longa-metragem, em Hollywood.

Pressão estética

Em entrevista à CBS News, a atriz refletiu sobre a pressão que impôs a si mesma ao valorizar sua aparência no passado. "Me pediram para perder peso. E todas essas, embora possam ter sido embaraçosas e humilhantes, é o que eu fiz comigo mesma por causa disso", revelou. No entanto, ela admite que essas experiências foram autoinfligidas devido à importância que atribuiu a elas na época.

Durante a conversa, Moore relembrou as gravações de "Proposta Indecente" em 1993, na qual pedalava cerca de 48 quilômetros diariamente entre Malibu e os estúdios da Paramount em Hollywood. Durante as filmagens, ela também estava cuidando da filha, recém-nascida.

"Acho que ela tinha, tipo, cinco ou seis meses quando estávamos filmando isso. Então, eu a amamentava durante a noite, acordava no escuro com um treinador, com lanterna de cabeça, pedalava até a Paramount, onde quer que fosse, até mesmo no local onde estávamos filmando; depois filmava um dia inteiro, que geralmente é um dia de 12 horas; e depois começava tudo de novo. Até mesmo a ideia do que eu fiz com meu corpo, é, tipo, tão louco, tão ridículo", relembrou.

Apesar da intensidade da rotina, Moore acreditava que era necessário. Hoje, olhando para trás, questiona se tudo isso realmente importava tanto. "Sim. Mas você olha para trás e meio que pensa, 'Isso realmente importava tanto?' Provavelmente não! Mas na época, eu fiz isso significar tudo", afirmou ela.

Autoestima

Desde os anos 80, Moore tem estado sob os holofotes em Hollywood. Brilhou em filmes que fascinam diferentes gerações, mas fora das telas lutava com problemas de autoestima. 

"Eu simplesmente tenho muita compaixão pela garotinha assustada que eu realmente era, mesmo que eu não deixasse ninguém ver isso", explicou a protagonista de "A Substância". "E se eu pudesse voltar, eu lhe daria um abraço e diria: 'Está tudo bem. Está tudo bem.'"

No novo filme, uma cena chama atenção: sua personagem aplica maquiagem no espelho apenas para borrá-la logo depois. O processo foi emocionalmente exigente para Moore.

"Emocionalmente, essa ideia que eu acho que muitos de nós já tivemos, onde estamos tentando fazer algo melhor e então continuamos piorando", revelou. "Para mim, é um dos momentos mais dolorosos de todo o filme. E foram pelo menos 15 tomadas de cada vez. E então, no final, meu rosto estava em carne viva."

Em relação à sua própria imagem hoje, Moore admite que tem dias bons e ruins ao olhar no espelho. Contudo, agora ela consegue perceber quando está sendo crítica demais consigo mesma e aceita suas imperfeições.

"Alguns dias eu olho e fico tipo, 'Uau. Isso é muito bom'. E alguns dias, eu me pego dissecando, hiperfocando em, você sabe, coisas que eu não gosto. A diferença é que agora eu consigo me pegar. Eu posso dizer, Sim, eu não gosto dessa pele solta. Mas, você sabe, é o que é. Então, eu vou fazer o melhor do que é, ao invés de perseguir o que não é".