Dacre Stoker, sobrinho-bisneto de Bram (à esqu.) e cena de 'Drácula', 1931 (à dir.) - Divulgação e Universal Studios
Bram Stoker

Sobrinho-bisneto de Bram Stoker celebra Drácula: 'Padrão ouro para vampiros'

Em entrevista exclusiva, Dacre Stoker, sobrinho-bisneto de Bram, celebra 'Drácula', romance que se tornou um clássico do terror

Fabio Previdelli Publicado em 30/10/2024, às 18h00

Em 1897, o autor irlandês Bram Stoker publicou Drácula. Obra atemporal e clássico absoluto do terror, o romance epistolar não foi o primeiro a apresentar o vampiro na literatura, mas, sem dúvidas, se tornou o mais popular de todos os tempos. 

A mais celebrada narrativa de vampiros continua popular após quase 130 anos, com adaptações em filmes, teatro, quadrinhos, jogos eletrônicos e tudo o que se pode imaginar. 

Dacre Stoker, sobrinho-bisneto de Bram - Divulgação

Agora, o legado de Drácula vem ao Brasil com Dacre Stoker, sobrinho-bisneto de Bram que participará da Horror Expo Brasil 2024 — maior evento focado no gênero do horror na América Latina que acontece entre os dias 8 e 10 de novembro, em São Paulo. Ele é autor de "Drácula: A Morte Não Morre" e "Dracul" - prequela de Drácula escrito com J.D. Barker.

 

Em entrevista exclusiva à Aventuras na História, Dacre falou mais sobre o autor que está eternizado na literatura. "Bram era uma pessoa muito complexa e interessante, ele era um artista, um escritor, um atleta e um amante de história e filosofia", destaca ele.

A inspiração para Drácula 

O terceiro de sete filhos, Bram Stoker nasceu em 8 de novembro de 1847, em Marino Crescent, Dublin (Irlanda). Ele começou a se interessar pelo teatro ainda quando estava na escola e escreveu seu primeiro ensaio aos 16 anos. 

Bram se tornou crítico teatral pelo Dublin Eventing Mail e, mais tarde, gerente do Lyceum Theater em Londres. Em 1890, ele visitou a cidade costeira inglesa de Whitby, que serviu de inspiração para seu clássico — no livro, o Conde Drácula, em formato de cachorro preto, desembarca na cidade, onde corre pelos 199 degraus até o cemitério da Igreja de Santa Maria, à sombra das ruínas da Abadia de Whitby. 

Alguns pesquisadores também sugerem que Drácula foi inspirado por figuras históricas como Vlad, o Empalador, embora não exista consenso em torno disso. 

Foto de Bram Stoker, criador de Drácula - Autor desconhecido / Domínio Público / Via Wikimedia Commons

 

"Acredito que ele foi inspirado pelo folclore e superstições irlandesas, bem como pelas informações que encontrou em muitos livros nas bibliotecas de Whitby e Londres sobre vampiros em muitos países, especificamente na Transilvânia", aponta Dacre

"Ele queria criar uma história que fizesse as pessoas acreditarem que talvez os vampiros fossem realmente reais", continua. 

Mas além de fazer as pessoas acreditarem que os vampiros eram reais, será que o próprio Bram acreditava na existência deles? "Eu acho que ele era muito aberto sobre coisas do Ocultismo, Segunda Visão e possivelmente vampiros", diz seu sobrinho-bisneto. 

Tenho certeza de que ele percebeu que muitas pessoas ao redor do mundo acreditavam em vampiros. Esta citação de Drácula resume suas crenças: 'Há mistérios que os homens só podem adivinhar, e que após eras e eras só conseguem resolver em parte'", prossegue. 

A popularidade de Drácula 

Drácula foi o quinto livro publicado por Stoker. Na época, o autor estava próximo de completar 50 anos e já era reconhecido por seus trabalhos. Apesar de sua habilidade para escrever, o romance foi considerado extremamente violento para a época.

No ano de seu lançamento, o jornal britânico Manchester Guardian descreveu a obra como "grotesca demais", apontando que Bram teria cometido "um erro artístico ao preencher todo um volume com horrores". 

Quando foi publicado, Bram Stoker não ganhou royalties para as primeiras mil vendas, aponta Barbra Belford em 'Bram Stoker and The Man Who Was Dracula'. 

Além disso, na década de 1930, quando a Universal Studios comprou os direitos do livro para uma adaptação cinematográfica, foi descoberto que Bram não havia cumprindo totalmente as leis de direitos autorais, o que fez com que o romance fosse colocado em domínio público. 

Barbra ainda aponta que a mãe de Bram, Charlotte Stoker, acreditava que o livro lhe traria um enorme sucesso financeiro, mas a grande verdade é que, na época, Drácula não repercutiu muito bem e só se tornou um grande sucesso após a morte do escritor— que faleceu aos 64 anos, em 20 de abril de 1912.

Cena clássica do filme Drácula (1931) - Divulgação / Universal Pictures

 

O fato é que Drácula nunca saiu de catálogo e ainda hoje gera edições especiais de editoras no Brasil e no mundo. Dacre acredita que o romance se tornou um clássico porque representava os problemas e medos das pessoas da era vitoriana. 

"Depois que o romance foi adaptado para o palco, em 1922, e para o cinema, em 1931, não houve como retroceder, pois, essas duas plataformas lançaram a história de Bram na cultura popular, agora ela está em todo lugar", aponta. 

"Drácula é chamada de avô de todas as histórias de vampiros, acho que isso diz tudo", diz o sobrinho-bisneto de Bram sobre o legado da obra. "É o padrão ouro para todos os vampiros".

Drácula se tornou imensamente popular também pelo debate por trás da obra, com diversas interpretações sobre gênero e sexualidade, questões raciais ou também as ansiedades vitorianas sobre as doenças. 

"Bram nunca deixou transparecer se queria que houvesse alguma lição em sua escrita de Drácula, na verdade, quando questionado por Jane Stoddart em 1897 no jornal British Weekly, ele disse que preferia deixar o leitor decidir por si. Acredito que Bram queria que percebêssemos que a fé na bondade, não em qualquer religião em particular, mas a fé e os laços de amizade, com o respeito pelos velhos costumes da superstição combinados com as novas ciências, prevalecerão sobre o mal", finaliza Dacre.

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