Após uma viagem que quase terminou em tragédia, Armstrong, Aldrin e Collins entraram para a História
Márcio Sampaio de Castro e Roberto Navarro Publicado em 20/07/2020, às 00h00
O módulo lunar Eagle (Águia) está 1000 metros acima da superfície e tem mais 5 minutos de combustível. Dentro da cabine, os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin estão às voltas com o alarme do computador de bordo. Responsável por conduzir automaticamente a descida, a máquina apita incessantemente, indicando sobrecarga.
Abaixo, a paisagem, que deveria ser uma planície, está coalhada de elevações e crateras. Se àquela velocidade a nave tocar na borda de uma delas ou pousar de lado, a volta para casa estará comprometida. A 150 metros de altitude, Armstrong desiste do piloto automático, desliga o computador e, com os batimentos cardíacos ultrapassando os 150 por minuto, resolve conduzir o módulo como se fosse um helicóptero.
O tempo previsto para o pouso era de 14 minutos. Em Houston, Texas, na base da missão Apollo 11, os técnicos prendem a respiração. Faltando 20 segundos para que o combustível dos foguetes de descida se esgote, Armstrong anuncia: A Águia pousou.
Instantes depois, chega a resposta: "Ok, recebemos sua mensagem. Vocês deixaram um punhado de rapazes quase azuis por aqui. Estamos respirando de novo". Assim começava, em 20 de julho de 1969, a primeira visita do homem à Lua.
Essa viagem começou oito anos antes, com um discurso do presidente John Kennedy (1917-1963). O país estava às voltas com a guerra fria e a União Soviética liderava a corrida espacial quando Kennedy prometeu que os Estados Unidos seriam os primeiros a enviar uma missão à Lua.
O Projeto Apollo chegou a 16 de julho de 1969 pronto para lançar o foguete mais poderoso construído até então. Na ponta do Saturno V estavam a cápsula com o módulo de comando e serviço e o módulo lunar. A bordo, Armstrong, Aldrin e Michael Collins. Às 9h32, horário da Flórida, a Apolo 11 decolou do Centro Espacial Kennedy. Sentados sobre toneladas de combustível, os três arrancaram a 28.800 quilômetros por hora.
Em 12 minutos, a Apollo 11 estava em condições de orbitar. O desafio agora era aproveitar o movimento de rotação terrestre e o disparo do terceiro estágio de motores para atingir 40 mil quilômetros por hora e mergulhar no vácuo, percorrendo os 384 mil quilômetros que separavam a missão de seu objetivo.
Não se tratava, contudo, de uma viagem em linha reta. Os astronautas precisavam calcular aonde a Lua estaria em três dias, quando os motores de desaceleração seriam ativados. Além disso, a velocidade inicial não seria constante, uma vez que a gravidade da Terra roubaria energia da nave até metade do caminho. Um erro nos cálculos e a Apollo poderia se chocar com o satélite ou passar longe e se perder no espaço profundo.
Retorno ameaçado
Ao final do terceiro dia de viagem, os três foram acordados pela base em Houston. A monotonia da travessia, só quebrada durante as refeições com alimentos desidratados, seria substituída por momentos perigosos. O primeiro passo era estabelecer uma órbita ao redor da Lua a uma altitude de 112 quilômetros.
Feito isso, os astronautas se separariam. A bordo do módulo de comando, Collins seguiria na posição inicial, enquanto Armstrong e Aldrin deveriam descer pilotando o módulo lunar. Qualquer erro seria fatal.
De acordo com Jack Garman, o engenheiro que orientou os astronautas a ignorar os alarmes do computador da Eagle durante a descida, a capacidade do equipamento era comparável ao processador de um telefone celular atual. Em Houston, o mainframe que ocupava um andar inteiro não era muito mais eficiente que um laptop.
Isso talvez explique por que o módulo lunar foi parar sobre uma formação rochosa, quando deveria sobrevoar o mar da Tranquilidade. Mas esse não era o único problema que ameaçava o retorno. Testes prévios indicavam que o motor de decolagem do módulo a partir da superfície lunar tinha 50% de chances de falhar.
Os riscos eram tão grandes que o presidente Richard Nixon tinha um discurso pronto: "A fatalidade determinou que aqueles homens que foram para a Lua explorá-la em paz permaneçam na Lua para descansar em paz". Felizmente, a sorte e a perícia dos astronautas determinaram que o pouso fosse bem-sucedido, e o dia 20 de julho de 1969, um domingo, entrasse para a História.
Cinco horas e meia após a alunissagem, Armstrong abriu a escotilha e desceu as escadas até tocar o solo lunar. Na Terra, 700 mil telespectadores acompanhavam tudo, graças a uma câmera instalada numa das pernas do módulo. Ao dar seu primeiro passo, o ex-piloto de caças, que vira a morte de perto durante a Guerra da Coreia, proferiu a famosa frase: "É um pequeno passo para um homem, um gigantesco salto para a humanidade".
Diante da audiência planetária, ele se deslocava com os 81,7 quilos do traje e da mochila como se fosse um menino. Na superfície lunar, esse peso caía para 13,6 quilos, já que a gravidade ali equivale a um sexto da terrestre. Quinze minutos depois, foi a vez de Aldrin se juntar a Armstrong com uma frase curiosa.
"Magnífica desolação", disse, ao se deparar com a vastidão granulada e cinzenta. Por duas horas, os dois recolheram 21 quilos de amostras do solo. Exaustos, voltaram ao módulo para dormir e preparar o retorno. Após 22 horas na Lua, era hora de voltar para casa.
Nenhuma outra empreitada espacial superaria o encanto, a emoção e o ímpeto quase irracional que levaram os primeiros seres humanos a pisar na superfície prateada de nosso satélite. Com eles, o espaço se tornava verdadeiramente a última fronteira.
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