Na época, legistas viram evidências de que assassinato de Daniella Perez pode ter servido à cerimônia satânica
Redação Publicado em 25/07/2022, às 18h16 - Atualizado às 18h17
A atriz Daniella Perez, filha da escritora Glória Perez, é foco principal da nova série documental da HBO, a 'Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez'. Na produção, detalhes sobre a morte da jovem atriz são apresentados, além de particularidades das investigações e julgamento dos assassinos.
O assassinato de Daniella Perez ocorreu em 1992, no Rio de Janeiro, pelas mãos do também ator — e seu colega de trabalho, na novela 'De Corpo e Alma', escrita pela mãe da vítima — Guilherme de Pádua e sua esposa na época, Paula Thomaz. O corpo da atriz foi encontrado em um terreno baldio, com 18 marcas que indicavam ter sido apunhalada no crime.
Depois de o autor do crime ter confessado o que fez, ele e sua esposa contaram versões para o ocorrido que poderiam indicar que o crime não foi premeditado — como se a morte de Daniella Perez tivesse acontecido em decorrência de uma briga.
No entanto, após a análise perita do local do crime e do corpo da vítima, a hipótese foi descartada, e ainda surgiram indícios mais surpreendentes: possivelmente a jovem teria sido morta durante realização de um ritual macabro.
Daniella Perez e Guilherme de Pádua eram colegas de elenco da novela 'De Corpo e Alma', escrita pela mãe da vítima, na época em que o crime que veio a chocar o Brasil aconteceu. Mesmo após ter confessado o que fez, no entanto, o então ator se defendia, alegando que matou a filha de Glória Perez porque ela o assediava durante as gravações.
Entretanto, depoimentos de outras pessoas que compunham o elenco da novela, além de funcionários do estúdio, apontavam que era Guilherme de Pádua quem assediava a colega durante os momentos de trabalho, como informado pelo O Globo. O documentário da HBO também revela que no dia que compreendeu o crime, o agora ex-ator parecia inquieto, e sempre rondando Daniella.
Após análise mais detalhada do corpo de Daniella Perez, porém, pôde-se constatar que a hipótese de briga entre a vítima e seus assassinos é descartada, pois não havia sinais de defesa no corpo dela — ou seja, ela provavelmente já estava inconsciente quando foi apunhalada.
Além do mais, Guilherme de Pádua alegou ter matado a atriz com uma tesoura, o que também foi desmentido. Os ferimentos no corpo dela foram provocados por um objeto perfurocortante com dois gumes — ou seja, duas partes cortantes na lâmina. Uma tesoura, por sua vez, além de ter apenas um lado cortante, também causaria ferimentos na mão do criminoso, pela maneira como seria manuseada.
Com isso, constatou-se que a arma utilizada no crime teria sido similar a um punhal, o que serviu para reforçar teorias de que Daniella teria sido morta num ritual.
Além disso, outros detalhes chamaram atenção: o corpo da atriz foi encontrada no interior de um círculo queimado no matagal do terreno baldio, ao pé de uma árvore.
Ainda mais, na palma da mão direita da vítima ainda foi identificada uma mancha avermelhada causada por alguma substância não identificada, que também foi encontrada na árvore. Por fim, os ferimentos no peito dela ainda formavam um círculo ao redor de seu coração.
O uso do punhal é muito comum nesse tipo de ritual e, para seus adeptos, o coração é a sede da alma", disse o legista Talvane de Moraes na época do crime, para O Globo. "O coração foi a região mais golpeada no corpo da vítima", completou.
Outros elementos que ainda reforçavam a hipótese de um ritual na morte de Daniella Perez foram apontados por colegas de Guilherme de Pádua, como o ator Maurício Mattar. Segundo ele, conforme repercutido pelo O Globo, o condenado e sua esposa eram adeptos de uma seita e cultuavam uma estátua de gesso que chamavam de 'Chicão'.
Segundo Mattar, Guilherme de Pádua até mesmo levava a entidade para 'assistir' espetáculos e para dentro de seu camarim. Certo dia, ainda, Pádua teria chamado Mattar para sua casa para conhecer o tal 'Chicão', porque a entidade lhe dizia que o casamento e carreira de seu colega estariam indo mal — Maurício garantiu que não foi à casa do colega na ocasião.
Os próprios advogados da família Perez ainda acreditavam na hipótese de um ritual macabro para explicar a morte de Daniella, todavia, a tese não foi levada adiante na Justiça. No julgamento, foi atestada a motivação de que Guilherme de Pádua assediava a vítima para que pudesse obter mais destaque na novela, já que ela era filha da autora.
No entanto, ainda conforme os apontamentos do julgamento, o ator ficou inseguro após perceber pouco espaço de seu personagem na novela.
Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram sentenciados a 19 e 18 anos de prisão, respectivamente, mas ambos foram libertados em 1999, após cumprirem apenas um terço da pena prevista.
A produção da HBO sobre o crime não agradou nenhum pouco o condenado. Em seu perfil privado nas redes sociais, Guilherme de Pádua criticou o fato da produção ser “totalmente parcial”. "Não vou me fazer de vítima, mas não é nada agradável [essa situação]", disse, segundo repercutido pela Ilustrada, da Folha. "Já passei noites tentando consertar, mas não tem como consertar o passado."
*Com informações do O Globo.
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